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    sábado, abril 13, 2024

    Mulher busca satisfação do desejo em livro inédito e póstumo de García Márquez

     Gabriel García Márquez trabalhou quase dois anos no livro, entre 2003 e 2004 — Foto: Eduardo Verdugo/AP

     

     

    MARCUS LOPES

    Em março de 1999, o escritor colombiano Gabriel García Márquez (1927-2014) surpreendeu o público em um evento na Casa da América, em Madri, ao substituir um discurso tradicional pela leitura de um conto que havia escrito recentemente. Ao lado do também Nobel de Literatura José Saramago, Márquez apresentou aquele que se tornou, 25 anos depois, o primeiro capítulo do seu romance inédito e póstumo “Em agosto nos vemos”, cujo lançamento mundial é nesta semana.

    O livro não tem o mesmo refinamento dos grandes títulos do autor, como “Cem anos de solidão” (1967) e “Amor nos tempos do cólera” (1985), por alguns motivos práticos.

    O principal deles é que, apesar de ter trabalhado com afinco durante quase dois anos, entre 2003 e 2004, Márquez já sofria e lutava contra o declínio das suas faculdades mentais. Isso resultou em uma batalha interna entre o rigor dos seus escritos e a realidade imposta pelas limitações da saúde.

    A lenta e constante evolução da doença degenerativa era uma situação frustrante e desesperadora. “A memória é, ao mesmo tempo, minha matéria-prima e minha ferramenta. Sem ela, não existe nada”, disse Márquez em determinada ocasião em seus últimos anos de vida produtiva.

    Todos os elementos do estilo do autor estão ali: a capacidade de imaginação que o tornou um dos expoentes do realismo mágico; a linguagem poética e o mergulho nos sentimentos humanos mais profundos, sempre embalados em uma narrativa direta e cativante.

    O enredo narra a história de Ana Magdalena Bach, de 46 anos, uma bela mulher, integrante de uma família com tradição musical. Ainda muito jovem, abandonou a faculdade de artes e letras para casar-se com um músico que, anos depois, se torna diretor de um conservatório, substituindo o pai de Ana.

    O casal tem dois filhos. O menino seguiu a carreira do pai e tornou-se o primeiro violoncelo da Orquestra Sinfônica Nacional, aos 22 anos. A filha administra o confronto interno entre a rebeldia e os exageros juvenis com uma suposta vocação para ingressar na Ordem Religiosa das Carmelitas Descalças.

    Todos os anos, Ana Magdalena viaja por quatro horas em um barco de linha até uma ilha do Caribe, única referência geográfica em todo o texto. O objetivo é visitar o túmulo da mãe, enterrada no pobre cemitério do vilarejo da ilha que, aos poucos, teve a sua simplicidade e autenticidade tragada pela ascensão do turismo na região.

    A viagem, sempre em agosto, segue um ritual: bate-volta de uma noite, embarque no mesmo táxi velho que a transporta até o hotel onde se hospeda todos os anos; um ramo de gladíolos comprados na florista do mercado local e a limpeza metódica do túmulo. Até o cardápio do jantar se repete — sanduíche de presunto e queijo no pão torrado e uma xícara de café com leite.

    A rotina só é quebrada em determinada noite, quando se dá a liberdade de tomar um drinque de gim no restaurante do hotel enquanto aguarda o lanche. “O mundo mudou depois do primeiro gole”, escreve o autor, ao contar o flerte entre Ana e um homem desconhecido, naquilo que rapidamente e sem muitas perguntas se transforma em um romance fugaz de uma noite. “Subiu para o quarto com o terror delicioso que não sentia desde sua noite de núpcias.”

    O encanto é desfeito quando encontra uma nota de US$ 20 que o amante deixa pela manhã no meio de um livro que ela estava lendo. A simbologia daquela cédula deixada sem qualquer explicação é uma tortura mental que a persegue ao longo de toda a narrativa.

    A frustração com aquilo que poderia ser interpretado como um pagamento pela noite de prazer não impede Ana de adquirir um novo ritual nas viagens à ilha: a procura por um homem que a satisfaça por apenas uma noite. Algo que, já na desconfortável viagem de barco, faz aflorar um sentimento que se assemelha a uma revoada de borboletas alegres em seu peito. Até a relação com o marido melhora.

    A partir daí, em agosto as borboletas começam a voar na mente dela, que aguarda a viagem com a mesma ansiedade de uma criança que espera a tarde de domingo para ser levada ao circo. Uma ansiedade que faz Ana perguntar a um tocador de saxofone e mago ambulante que encontra por acaso onde estaria o homem da sua vida. “Nem tão perto quanto você gostaria, nem tão longe quanto você crê”, responde o mago, que remete o leitor ao cigano Melquíades, de “Cem anos de solidão”.

    Passados quase dez anos da morte do autor, “Em agosto nos vemos” é um belo retorno de García Márquez às prateleiras das novidades literárias. Trata-se de um afago aos órfãos do vencedor do Prêmio Nobel de Literatura de 1982.

    A edição brasileira do livro inclui quatro páginas fac-símiles de originais com anotações do autor. Há também um texto em que o editor Cristóbal Pera detalha o processo de criação, edição e revisão do livro, além das dificuldades. Mesmo tendo concluído a obra, García Márquez já era traído pelas imprecisões da memória que se esvaía aos poucos.

    O editor também teve de trabalhar com fragmentos de informações e cenas distribuídas em duas versões originais, uma impressa com anotações à mão feitas pelo escritor e outra digital, que foi guardada por Mónica Alonso, secretária de Márquez. “Minha tarefa nesta edição foi a de um restaurador diante da tela de um grande mestre”, escreve Pera.


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