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  • O BRASIL EH O QUE ME ENVENENA MAS EH O QUE ME CURA (LUIZ ANTONIO SIMAS)

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    domingo, abril 28, 2024

    Flotilha para Gaza (2)

     

    THIAGO ÁVILA 

    O trajeto de Brasília a Guarulhos e, depois, de Guarulhos a Frankfurt foi fazendo uma maquiagem em minhas redes sociais para pisar em território alemão em melhores condições.

    Fiz uma dúzia de postagens seguidas para deixar a visão inicial da página do Instagram (@thiagoavilabrasil) como “inofensiva”. Sai o “internacionalista, comunicador, socioambientalista e revolucionário” e entram fotos e mensagens para dar a entender que aquela pessoa passando pelo país mais hostil da União Europeia era apenas um “influencer vegano”.

    Parece uma coisa sem sentido (e é até engraçado incorporar esse personagem), mas é extremamente eficaz. Foi assim que até Israel me deixou entrar em 2019, quando conheci enfim a Palestina, vi na prática os horrores do Estado de apartheid implementado na Cisjordânia ocupada, cheguei até as fronteiras norte e leste de Gaza (mas não pude entrar) e conheci os territórios que o sionismo ocupou em uma limpeza étnica que se inicia em 1947 e se intensifica nos dois anos seguintes com a formação do Estado de Israel.

    Eu já acompanhava, estudava e apoiava a causa Palestina desde 2006, mas foi apenas quando estive lá presencialmente (e na fronteira sul pelo Egito em novembro de 2023), que compreendi o tamanho do horror ao qual esse povo está submetido há mais de 76 anos.

    Chego no aeroporto de Frankfurt com as pessoas mais próximas em prontidão. A política alemã de repressão aos movimentos solidários à causa Palestina é de tolerância zero. Prendem as pessoas em casa por postagens em redes sociais, atacam congressos acadêmicos (inclusive de judeus que muito corajosamente se posicionam contra a ideologia racista e supremacista que é o sionismo), obrigam a reconhecer e legitimar o Estado de Israel antes de concluir o processo de requerentes de cidadania alemã, defendem Israel nas instâncias internacionais e pressionam outros países sob sua influência para que não se posicionem a favor do povo palestino.

    Pelo trabalho que realizo em solidariedade à Palestina, que ganhou mais alcance com os vídeos virais após outubro, com as manifestações massivas que realizamos e com os debates (difíceis) com sionistas e propagandistas de guerra em podcasts e entrevistas de TV, além de minhas idas à região para articular com movimentos locais e fortalecer os esforços de denúncia e ajuda humanitária, não tenho dúvidas de que teria problemas na imigração alemã se eu fosse identificado por fazer esse trabalho.

    Felizmente, dessa vez não fui. Passei em todos os procedimentos de segurança e não saí do aeroporto para aguardar o vôo para Istambul poucas horas depois.

    Enquanto esperava, via pela televisão que os Estados Unidos aprovou um novo pacote de ajuda militar para Ucrânia e Israel, sendo 26 bilhões de dólares para o Estado sionista.

    A insistência da televisão alemã em defender Zelensky e Netanyahu é de embrulhar o estômago, assim como a hipocrisia de Joe Biden, que alega ter sensibilidade às vidas palestinas em sua campanha (quase naufragada) à reeleição, mas segue sendo sócio do genocídio palestino, enviando armas, protegendo Israel com seus porta-aviões e fragatas de guerra, pressionando países vizinhos para impedir a solidariedade e bloqueando a implementação de medidas diplomáticas e judiciais que pudessem parar a mão genocida de Israel.

    Na prática, eu embarco para Istambul entendendo que a maior violação de direitos humanos existente no mundo hoje está prestes a se agravar ainda mais, com novos 26 bilhões de dólares que Israel receberá de “ajuda” de Washington. O que já era inaceitável, insustentável, inadmissível, ganhou mais recursos e energia da maior potência imperial do mundo como um “presente” para se intensificar e prolongar.

    ICL NOTICIAS 

     

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