Caso encerrado ?
A PF APRESENTA OS MANDANTES DO ASSASSINATO
DE MARIELLE, MAS AINDA DEVE UMA DEVASSA NO
“ECOSSISTEMA CRIMINOSO” DO RIO DE JANEIRO
"A revelação da chocante participação
de Barbosa e Giniton Lages, chefe da De-
legacia de Homicídios da Capital por ele
indicado, na trama criminosa é vista co-
mo uma oportunidade de se enfrentar a
histórica corrosão das instituições de Es-
tado pelo crime organizado no Rio de Ja-
neiro, embora esta seja uma tarefa com-
plexa. “Tudo que está envolvido no assas-
sinato de Marielle e Anderson constitui
uma revelação da profundidade, magni-
tude e extensão em que se tem dado a de-
gradação das instituições do Rio de Janei-
ro, em particular das polícias e da justiça
criminal de uma maneira geral”, diz o an-
tropólogo e cientista político Luiz Eduar-
do Soares. Mas que não se alimentem ilu-
sões: “A maior parcela das autoridades
responsáveis e das lideranças políticas no
Rio é parte do problema e está envolvida
com essa dinâmica há muitos anos. Por-
tanto, seria muito ingênuo supor que daí
proviesse a mudança”. O especialista ava-
lia, porém, ser possível iniciar um proces-
so em busca de soluções: “Devemos tra-
zer à sociedade a necessidade de irmos
muito mais fundo, não só na busca da pu-
nição de culpados, mas na transformação
das condições que tornaram um caso co-
mo o da Marielle possível”.
Na maior parte dos casos, o que você tem
são policiais civis ou militares que bus-
cam associação com protagonistas do
crime, que agem como criminosos dire-
tamente e passam a funcionar eles pró-
prios como criminosos. É um processo de
degradação interno.” O antropólogo diz
que o caso do delegado Barbosa “é uma
expressão hipertrofiada” de um processo
contínuo de envolvimento da polícia com
a corrupção e com a violência nas suas
formas mais despóticas: “Isso leva ao
poder Wilson Witzel e Cláudio Castro,
leva ao poder Jair Bolsonaro, mas tam-
bém havia levado ao poder Sérgio Cabral
com as suas tinturas liberal-democráti-
cas. São diferentes modalidades, mas es-
sencialmente trazem esse amálgama de
força e domínio político com base em ex-
torsão, chantagem e assassinato”.
mais na reportagem de M A U R Í C I O T H U S W O H L