O alvo da educação: rentabilidade e punição
"No mundo do avesso da educação nacional, corporações militares e empresariais são educadoras e formuladoras das políticas educacionais e de juventude, em nome da democracia e do combate às desigualdades sociais. Embora os ofícios que exerçam e a posição social que ocupem sejam a pura e simples negação de tais atributos, seu poder se amplia e se espraia por toda a gama de ação social que comandam, enquanto quem possui experiência e formação na educação tem o alcance de suas práticas reduzido a pequenos espaços, quando conseguem realizar uma experiência formativa que se contrapõe à lógica dominante, criando fissuras no aparente consenso hegemônico. Quando está tudo invertido, é preciso revirar tudo do avesso, fazendo falar os efeitos da prática educativa e da ideologia que a sustenta. Quem preside os processos educativos se coloca como garantidor do direito à educação, mas o faz convertendo-o em tecnologia de gestão da juventude, associando…
as bandeiras da educação integral e do acesso
ao trabalho à rentabilidade e à punição."
"Um bom exemplo é o estado do Para-
ná, que produziu material escolar para
combater a mentalidade pobre, que
“culpa os outros e o governo” por sua
condição e “trabalha pelo dinheiro”, e
fomentar a mentalidade rica, uma vez
que quem pensa assim, mesmo sem ter
recursos, “assume os próprios erros”,
“fala de patrimônio e negócios” e “faz
o dinheiro trabalhar” (APP Sindicato,
2023). A formação pelo trabalho é conju-
gada com o individualismo, com o culto
aos patrimônios e aos negócios e com o
endeusamento do dinheiro.
Nesse contexto, não é possível se sur-
preender com o fato de estudantes do
ensino médio paulista terem anuncia-
do em suas aulas de projeto de vida o
desejo de se tornarem agiotas.