O livro é caro no Brasil ou nós que ganhamos pouco?

RODRIGO CASARIN
Os últimos anos não foram afáveis com o mercado editorial. A quebradeira de grandes redes de livrarias, o minguar das compras governamentais e os frequentes reajustes (sempre pra cima) no preço do papel são elementos que ajudam a explicar por que preços seguem subindo. Não pensem que isso vem acompanhado de editores e escritores se tornando milionários. Pelo contrário. O mais comum é ouvir insatisfações de todos os lados do balcão.
O livro ainda é mais barato no Brasil do que em diversos outros lugares. Convertendo os valores para alguma moeda em comum - o dólar, por exemplo -, o que encontramos nas livrarias daqui costuma sair mais em conta do que obras de mesmo perfil em lojas de países como Uruguai, Argentina, Chile, Portugal e Espanha. É a impressão que tive após andanças por esses cantos.
Há pouco tempo, o colega Érico Assis fez um exercício que ajuda a corroborar o que observei em viagens. Cruzando os valores de quadrinhos no Brasil com HQs semelhantes vendidas na França e nos Estados Unidos, percebeu que os preços seguem um valor absoluto próximo em alguns casos e bastante vantajoso aos brasileiros em outros.
Mas há um grande porém: Érico também calculou quanto que o valor dos quadrinhos custa em termos de horas trabalhadas para brasileiros, franceses e estadunidenses. É aí que a coisa aperta de forma dramática. Precisamos trabalhar muito, mas muito mais do que os outros para comprar algo que, em muitos casos, custa menos para gente do que para eles. A triste lógica serve para todo o mercado editorial.
Livros poderiam ser mais baratos no Brasil? Seria ótimo. Mas como fazê-lo? Mais isenção de impostos? Apertar a margem de editorias que passam o ano brigando para fechar no azul, principalmente as pequenas? Minguar ainda mais a remuneração de profissionais que já sofrem para conseguir trabalhos razoáveis? Apostar na venda direta e tirar as livrarias da jogada, o que contribuiria para a desertificação intelectual num médio prazo?
O livro não é absolutamente caro, não é esse o maior problema. O grande problema é quanto que a compra de um livro pode pesar nas contas da imensa maioria dos brasileiros. Me parece que o melhor não é brigar por uma solução focada no setor, mas em algo muito mais amplo.