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    sexta-feira, novembro 10, 2023

    O verdadeiro fim da História

     

     GABRIEL TRIGUEIRO

    Há coisa de uns 10 anos, por aí, lembro de ter publicado um tuíte tão tolo e equivocado quanto um tuíte pode ser. Alguma coisa a propósito da reação da imprensa e da comunidade internacional a algum ataque terrorista, que francamente não me recordo qual foi, mas que havia acabado de ocorrer. A frase era mais ou menos assim:

    Qualquer pessoa que condene esse negócio com uma adversativa, não está condenando coisa alguma, mas apenas dando uma reboladinha retórica.

    Na época me pareceu uma boa frase de efeito, além de exprimir uma verdade mais ou menos insofismável: a de que a política deliberada de atingir civis jamais poderia ser intelectualmente justificada, fosse qual fosse o contexto que a houvesse antecedido.

    Na época eu pensava assim: o cabra meteu um “contudo”, um “entretanto”, um “porém”, um “todavia”, fodeu, lá vai ele defender o indefensável. O negócio é que o tempo me mostrou que esse era um pensamento composto por um tanto de ingenuidade e mais um cadinho assim de ignorância.

    A premissa desse argumento não poderia ser mais equivocada — era a ideia de que há uma equivalência semântica e moral entre explicar (contextualizar, pôr em perspectiva etc.) e desculpar ou endossar o que quer que fosse.

    Se qualquer tentativa de historicizar um problema é criminalizada e hostilizada no debate público, que a propósito tem florescido cada vez mais e mais numa conjunção de moralismo e antiintelectualismo, aí fodeu tudo, né. O perigo desse troço é a morte do discurso histórico.

    Corta para 2023. Toda tentativa de recordar que os ataques em Gaza foram antecedidos por uma política colonialista de apartheid (se lembra quando Jimmy Carter era o único a usar a expressão?) foram recebidos com reações que variavam do desdém a acusações de antissemitismo e interdições moralistas e intelectualmente desonestas do debate.

    Embora alguns setores da esquerda realmente flertem com variações mais ou menos explícitas de argumentos antissemitas, o que é intelectualmente repulsivo e moralmente indefensável, claro, recordar o processo histórico que culminou nos ataques recentes do Hamas não tem nada de antissemita, é apenas o desenvolvimento de um argumento atento a nuances, contexto e uma reação à mistificação que sugere que aquela catástrofe humanitária implodiu da noite para o dia.

    Por outro lado, claro, o antissemitismo é um problema real e cada vez maior e mais urgente. Até porque ele se manifesta de formas às vezes sutis e foi fundamental na ascensão do populismo de extrema direita da última década.

    Por exemplo, quando trumpistas se mostram obcecados com George Soros, isso é antissemitismo. Quando falam de globalismo, isso é uma code word para antissemitismo. Até quando Olavo de Carvalho falava do Foro de São Paulo, aquilo também era antissemitismo — não no conteúdo do que ele sugeria explicar, óbvio, mas na própria estrutura argumentativa. Isto é, na ideia paranoica de que havia uma cabala secreta de lideranças desnacionalizadas alterando secretamente os rumos da política internacional. É um papinho 100% Protocolo dos Sábios de Sião, repare.

    Pouco importa se essa ala da extrema direita puxa o saco de Israel, aliás, do Likud especificamente, sejamos precisos, porque o antissemitismo continua sendo o, digamos assim, frame mental e discursivo dessa galera. 

    “Explanations are not excuses”

    O problema e a beleza de ser velho é o fato de que você raramente é surpreendido pelas coisas. Quase sempre o que acontece hoje é uma variação de alguma coisa que aconteceu ontem. E o que vai acontecer amanhã será uma modulação de alguma coisa que está em curso neste exato momento. Lembro agora, por exemplo, do 11 de Setembro. Ou melhor dizendo, das reações ao 11 de Setembro.

    Aos ataques se seguiu uma atmosfera de ufanismo tóxico, de ultranacionalismo, e qualquer pessoa que naquele momento ousasse recordar o histórico, pra gente usar um eufemismo, complexo, da presença norte-americana no Oriente Médio, era taxada como alguém que estivesse desculpando os atentados terroristas ou até celebrando a morte dos 3000 civis. Daí toma-lhe de falsas analogias históricas e de expressões vagas como “clareza moral” e etc.

    O negócio é que o apagamento do discurso histórico, e de qualquer perspectiva contextualizada de longa duração, pode gerar o que Sarah Schulman definiu muito bem, em artigo recente para a New York Magazine:

    At the root of this erasure is the increasing insistence that understanding history, looking at the order of events and the consequences of previous actions to understand why the contemporary moment exists as it does, somehow endorses the present. Explanations are not excuses — they are the illumination that builds the future. But the problem with understanding how we got to where we are is that we could then be implicated.

    “Explanations are not excuses”, caralha.

    Desculpa, Fukuyama, mas esse sim é o verdadeiro fim da História.

    CONFORME SOLICITADO 


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