Reflexoes otimistas sobre o uso de AI
RAFAEL SENRA
de Rafael Senra
Reúno aqui algumas reflexões sobre o uso de IA nas artes gráficas e na indústria do entretenimento em geral (audiovisual, quadrinhos, etc.). São reflexões otimistas, e por isso devem ser vistas com desconfiança. Não me parecem ser reflexões para se levar tão a sério, operando mais como o esboço de um pensamento crítico acerca do tema. Vamos lá:
1- Nenhuma tecnologia moderna foi realmente descartada após ser superada. A TV não acabou com o rádio. O CD não acabou com o vinil, e o streaming não acabou com os anteriores. Até a fita cassete está voltando.
2- O que temos percebido é que uma tecnologia superada continua existindo como fetiche, e ganha um outro tipo de valor. A fotografia analógica passou, mas todo aplicativo moderno tem filtros que emulam o resultado analógico.
3- Os artistas que dominam essas tecnologias antigas tem um valor diferenciado no mercado, no aspecto do prestígio e também no financeiro. São tidos como mestres do ofício, por dominarem linguagens que a maioria dos profissionais não sabem manejar.
4- No caso da IA, é possível que ocorra o mesmo. Artistas que não dependam dela e que ainda produzam no esquema analógico ganham um tipo diferenciado de prestígio.
5- Percebo, porém, que a maioria das reflexões sobre IA envolvem o mercado de trabalho, e como as grandes empresas vão se apropriar dessa tecnologia. É aí que fico me perguntando a respeito de todo o exercício de projeção de futuro:
6- Se a IA vai modificar a cadeia produtiva na ponta da base, dos trabalhadores, porque deveríamos pensar que a IA não modificaria a superestrutura - as instituições, a ideologia, e os propagadores disso, que são o que chamamos de burguesia, os empresários, os que fazem a manutenção dessa ideologia, que detém a concentração e o monopólio do poder?
7- Outra coisa. Há anos, temos visto a promessa das impressoras 3D, e de avanços também na área gráfica. Os tablets para leitura digital demonstraram algum avanço nos últimos anos. Hoje em dia, um artista independente já consegue produzir algo à altura das produções mainstream em termos de acabamento e qualidade gráfica. Isso tende a melhorar nos próximos anos também.
8- Creio que o grande diferencial das grandes empresas nesse contexto seriam o direito em cima de personagens icônicos. Que é algo que, no caso da Disney, por exemplo, já estaria em risco. Eles tem dado o "tombo" na questão do domínio público nos EUA há décadas, mas talvez percam os direitos sobre esses personagens nos próximos anos. E o dominó continuará derrubando mais e mais peças.
9- Mas é possível que aconteça pra valer uma coisa: empresas de certificação, nos mesmos moldes da alimentação. Estúdios ou artistas cujas obras recebam um selo, do tipo "100% feito a mão" ou "100% feito por humanos". Será que estou sendo ingênuo demais nesse palpite? Sei lá. Muitas previsões certeiras do passado foram recebidas com risadas.
Enfim, me parece divertido fazer esse exercício de futurologia. Talvez renda um bom debate. Aguardemos pelos próximos capítulos dessa FC do mundo real.