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    segunda-feira, setembro 11, 2023

    O despejo de Ana Moser

     

     

     

    Dorrit Harazim

     Atleta consagrada e cidadã engajada, Ana Moser não tinha padrinho político nem peso partidário. Dentro e fora das quadras, sua filiação sempre foi ao esporte com “E” maiúsculo — aquele que forma, educa, constrói uma sociedade saudável e participativa. Despejada do ministério que ocupou por apenas 245 dias, foi substituída por um apadrinhado do cacique Arthur Lira, presidente da Câmara de Deputados, em nome de um sempre incerto apoio do Centrão à governabilidade do presidente Lula.

    Apesar de anunciada e esperada há semanas, a troca não é banal. Ela foi doída por retratar o menosprezo secular dado à função social do esporte no Brasil e por ocorrer justo quando a pasta embicava na busca de políticas públicas de alcance duradouro. Por si só, o nome de Ana Moser gerava orgulho e confiabilidade nacional — das alegrias nas quadras, então, nem se fala! E não deixa de ser ironia ter sido substituída por um deputado federal, André Luiz de Carvalho Ribeiro (PP/MA), que trocou de sobrenome pelo apelido do pai, prefeito de Alto Alegre do Pindaré, para fazer carreira política: Fufuca. Ou Fufuquinha.

    Criado em 1995 no primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso, com Pelé à frente, o Ministério do Esporte sempre foi uma espécie de penduricalho errante na Esplanada brasiliense. Dependendo do governante, passava a agregado do Ministério da Educação, da Cultura, do Turismo ou da Cidadania. Durante os governos Lula 1 e 2 e Dilma 1 e 2, parecia ser capitania hereditária do PCdoB. Sempre foi primo pobre. No primeiro governo Lula, de janeiro de 2003, havia duas mulheres, 11 homens sem barba e 12 barbudos (contando os fiapos emergentes de Ciro Gomes, na Integração, e o bigode histórico de Olívio Dutra). Um deles era Agnelo Rossi, empossado no Esporte apesar do empenho pessoal de ídolos nacionais como o cestinha Oscar, do basquete, o lendário Sócrates, do futebol, e o jornalista Juca Kfouri. Dos R$ 97,2 bilhões do Orçamento da União para aquele ano, não mais do que R$ 100 milhões destinavam-se à desprestigiada pasta.

    De lá para cá, houve altos e baixos, sempre sem mudanças estruturais na função inclusiva do esporte. Também ocorreram cinco Olimpíadas — inclusive a Rio-2016, de legado indigesto —, e estamos às vésperas dos Jogos de Paris do próximo ano. Nenhum país de projeção econômica deixa de ser também potência esportiva, pois medalhas têm relação direta com o desenvolvimento humano da população. É erro corrente e grosseiro igualar dez medalhas de ouro de um país, conquistadas numa mesma modalidade individual ou provas múltiplas (natação, ginástica artística etc.) a dez ouros obtidos em esportes coletivos ou modalidades variadas — estes refletem melhor a verdadeira saúde esportiva e inclusiva de uma nação.

    Vinte e cinco anos atrás, desembarcava no Aeroporto de Guarulhos vindo de San Diego, onde mora até hoje, Joaquim Cruz, nosso campeão olímpico e recordista mundial. Nos Jogos de Los Angeles, em 1984, arrebatou o mundo com sua passada elegante na corrida de 800 metros e tornou-se referência planetária. Porém nunca rompeu o cordão umbilical com o Brasil. E ainda menos com o andar de baixo da cidade-satélite de Taguatinga, onde o pai carpinteiro tentara a vida nos anos 1960. Sempre que vinha de visita à terrinha, Joaquim trazia na bagagem material esportivo destinado à garotada que corria descalça na periferia brasiliense. Sempre longe das câmeras, como é seu feitio. Naquele desembarque de 1998, a “mala da doação”, que continha 33 pares de tênis de segunda mão, de marcas e tamanhos variados, ficou. O atleta havia condicionado seu cachê de US$ 1.250 do Sesi, por uma clínica e participação numa minimaratona, a um adicional de US$ 500 para a compra de tênis reciclados com pequenos defeitos (US$ 14,95 a peça). O valor da compra (com comprovante) nem ultrapassava os US$ 500 então permitidos pela Receita Federal. Foi tratado como sacoleiro vindo do Paraguai. Sentiu-se um subcidadão. Não se tratava de kits árabes nababescos, como em tempos modernos.

    Decidiu não fazer alarde. Proibiu o Sesc de pagar os US$ 680 cobrados pela Alfândega e bateu pé. Deu certo. Concluiu duas coisas:

    — Os meninos precisam de tênis, e eu, de emoção.

    Da minimaratona de 1.200 atletas mirins, participava o inevitável pelotão de descalços, com o chip eletrônico amarrado nas canelas nuas.

    É desse Brasil que o Ministério do Esporte precisa cuidar. A pasta não deveria comportar uma Secretaria Nacional de Apostas, as famosas bets agora presenteadas ao novo titular. Seu potencial de receitas deverá ultrapassar os R$ 5 bilhões. Só assim conseguiu se tornar atraente para Fufuca. Vida que segue. 

    O GLOBO

     ILUSTRAÇÃO MARCELO

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