Quatro posições contundentes sobre o filme da Barbie que você pode ter lido na internet durante essa semana ou pode querer emitir na semana que vem
JOAO LUIS JR.
Vivemos na era da “economia de atenção”. Ninguém tem mais tempo pra nada mas tudo está acontecendo ao mesmo tempo, todas as declarações precisam ser impactantes, todos “trazem verdades” e nuance é coisa de quem não tem coragem pra se posicionar de maneira firme. Ódio gera mais engajamento que amor, tudo é muito grave mas nada importa, o Twitter acabou, o Twitter mudou de nome, Eike Batista comprou o time do Coritiba e os hormônios do Chester estão transformando nossas crianças em podcasts.
Num contexto como esse, quando um tópico surge para debate, a única maneira de chamar atenção é assumir a posição mais intensa, contundente e combativa possível. Se todos estão falando de um disco, faz sentido dizer que achou ele “legal”? CLARO QUE NÃO! É preciso dizer que ele é O MELHOR DISCO DA HISTÓRIA DA MÚSICA, ou reforçar que ele é UM CRIME DE ÓDIO CONTRA OUVIDOS, QUE PRECISA SER PUNIDO COM A MORTE POR AFOGAMENTO NUMA PISCINA DE QUEROSENE EM CHAMAS. Existe um novo livro que as pessoas estão comentando? É preciso AMAR O LIVRO COM A FORÇA DE MIL SÓIS E QUESTIONAR A ÍNDOLE DE QUEM NÃO GOSTA ou ODIAR A OBRA COM A INTENSIDADE DE SEIS BOMBAS ATÔMICAS, UMA AMARRADA COMICAMENTE NA OUTRA, COMO SE FOSSE UMA ARMADILHA DO COIOTE PRA PEGAR O PAPA-LÉGUAS.
E agora que o filme “Barbie” finalmente foi lançado e está vivendo todo o ciclo de amor e ódio da internet, nós da “Conforme Solicitado” decidimos oferecer algumas opiniões já prontas pra você que quer muito participar do debate mas não pode gastar muito tempo com isso porque está absolutamente focado em brigar numa postagem sobre como “A Grande Família” é propaganda pró-monogamia.
“Barbie é uma armadilha do capitalismo” – Uma abordagem totalmente “necessária”, lembrar que um filme de boneca produzido por um dos maiores conglomerados midiáticos do mundo foi feito para ganhar dinheiro é realmente algo essencial, já que absolutamente ninguém deve ter imaginado que um filme de boneca produzido por um dos maiores conglomerados midiáticos do mundo foi feito pra ganhar dinheiro. É realmente algo que nunca aconteceu antes, e uma crítica que faz ainda mais sentido se você nunca tiver visto isso como problema em absolutamente nenhum dos outros grandes filmes de estúdio feitos pra vender bonequinho.
“Barbie resolveu todos os problemas do feminismo/Barbie retrocedeu em 200 anos o feminismo” – Duas posições igualmente fortes e que não devem abrir espaço pra nenhuma análise ou nuance entre elas, sendo obviamente uma questão binária que não permite debate. Pontos extras de atenção se você decidir assumir qualquer uma dessas duas posições sendo homem e quando alguma mulher comentar qualquer coisa você responder com “você não entendeu”.
“Barbie é um ataque a todos os homens” – Outra posição excelente, dizer que a representação do personagem Ken é ofensiva com certeza vai angariar atenção e fomentar o debate de maneira proporcional ao quanto você conseguir exagerar nas consequências do fato do personagem de Ryan Gosling se comportar como boa parte dos homens se comporta, com a diferença de que poucos de nós conseguem realmente dançar ou cantar minimamente bem. Nada sinaliza mais uma masculinidade potente e corajosa do que se sentir fisicamente ameaçado por um filme da Barbie.
“Não aguento mais o filme da Barbie” – Um clássico da internet, funciona muito se usado com o famoso “só eu que não vejo graça nesse filme?”, porque sinaliza que você é uma pessoa mais inteligente, de cultura superior, que espera mais da arte que consome, e não, em hipótese alguma, jamais, alguém apenas meio chato que está tentando se valorizar ao reclamar continuamente de alguma coisa que todas as outras pessoas estão achando relativamente divertida. Sério, vai na fé, essa é tradição.
CONFORME SOLICITADO
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