Vitória parcial
Arnaldo Branco
A nomeação para o Supremo Tribunal Federal de Cristiano Zanin, advogado pessoal do presidente Lula, é um tema que está rachando a esquerda: muitos não só lamentam a falta de uma mulher negra na indicação como também levantam a questão do princípio da impessoalidade, que nesse caso mandou lembranças. Outros acham que o Lula tem mesmo é que tocar o foda-se e blindar o governo contra possíveis rasteiras do judiciário — que é algo impossível dado o histórico de trairagens do Supremo contra a democracia, quem sabe no máximo dá pra passar um esmalte.
E assim como a esquerda eu também estou dividido, na dúvida entre lamentar a escolha de alguém que a gente não faz ideia que apito ideológico toca ou soltar fogos e afirmar que por mim o Lula podia escolher até o advogado Kakay. Sim, estou virando uma espécie de peessedebista do petismo, no sentido que peessedebista significava no passado, basicamente um sujeito que gosta de ficar em cima do muro e prefere esperar o fim do jogo pra adivinhar o resultado.
Pelo menos há uma unanimidade entre essas duas facções progressistas, que é a crítica à abordagem hipócrita da grande imprensa em relação ao Zanin — parece que a única possibilidade de união do campo progressista é através do ódio à Folha de S. Paulo.
Por exemplo: um desses colunistas que servem de garoto de recado da Faria Lima chegou a escrever no twitter que o nome do advogado do presidente é “inaceitável”, o que me deixou até feliz porque depois desses últimos anos em que essa galera ficou testando os limites do aceitável finalmente baixaram o gabarito.
Outro comentou que a escolha do Zanin abria um perigoso precedente no poder judiciário, mostrando que os jornais agora não estão mais fingindo que não foram cúmplices do governo Bolsonaro, estão fingindo que ele nem existiu. Escolha muito difícil? Do que você está falando?
Na falta de uma vitória total, resta comemorar a impossibilidade de um cenário alternativo, onde teríamos essas nomeações a cargo do Bolsonaro, que aliás pode perder seus direitos políticos em breve. E lembrar que quando ele falava publicamente em escolher ministro pelo critério “terrivelmente evangélico” a imprensa dava de ombros e suspirava: fazer o quê?
CONFORME SOLICITADO
https://conformesolicitado.substack.com/i/126369762/vitoria-parcial
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