This site will look much better in a browser that supports web standards, but it is accessible to any browser or Internet device.



blog0news


  • O BRASIL EH O QUE ME ENVENENA MAS EH O QUE ME CURA (LUIZ ANTONIO SIMAS)

  • Vislumbres

    Powered by Blogger

    Fragmentos de textos e imagens catadas nesta tela, capturadas desta web, varridas de jornais, revistas, livros, sons, filtradas pelos olhos e ouvidos e escorrendo pelos dedos para serem derramadas sobre as teclas... e viverem eterna e instanta neamente num logradouro digital. Desagua douro de pensa mentos.


    quinta-feira, junho 08, 2023

    Jeryd Mencken: H.L. Mencken + Jared Taylor

     

     Gabriel Trigueiro 

    Desde que surgiu em Succession o político conservador Jeryd Mencken, muito foi falado e escrito sobre sua inspiração na vida real ter sido uma mistura de gente como o ex-presidente dos EUA Donald Trump e o governador da Flórida e atual candidato à presidência Ron DeSantis.  

    Tudo muito justo e correto, mas o que sempre me intrigou mesmo foi a escolha do nome do cabra. Ou melhor, do sobrenome. “Mencken” sempre me pareceu uma referência muito específica ao jornalista e crítico cultural do início do século 20, H.L. Mencken — o cara que “descobriu” Scott Fitzgerald; defendeu que a literatura fundacional dos EUA tinha em Mark Twain seu santo padroeiro e, não bastasse isso tudo, foi um dos principais incentivadores de Gilberto Freyre para que ele publicasse sua recém-escrita tese de doutorado: “Casa-Grande e Senzala”.

    E daí que dia desses pesquisei na internet se alguém, além de mim, havia feito essa associação. Achei que encontraria uma penca de textos falando disso, mas esbarrei apenas em um dodói no Reddit sugerindo que o nome Jeryd Mencken poderia ser uma referência ao supremacista branco Jared Taylor e, claro, ao H.L Mencken, como eu já havia pensado. Gostei do palpite e resolvi testar a validade da hipótese.

    H.L. Mencken era um elitista e, melhor dizendo, um nietzschiano — foi a primeira pessoa a traduzir Friedrich Nietzsche para o inglês, como registrado em “American Nietzsche: A History of an Icon and His Ideas”, de Jennifer Ratner-Rosenhagen.

    Era, portanto, alguém com uma visão de mundo contramajoritária diante da cultura política liberal e a autoimagem democrática e igualitária dos EUA. 

    Não à toa, décadas depois, quando surgiu o movimento conservador norte-americano, e os sujeitos tiveram que correr atrás de uma genealogia intelectual mais ou menos respeitável, elegeram Mencken como uma espécie de pai fundador do movimento.

    Mas o fato é que essa ideia de um  H.L. Mencken conservador é, para dizer o mínimo, uma incorreção histórica. Leio em “H.L. Mencken: Racist or Civil Rights Champion?”, artigo de Larry S. Gibson, que o buraco era mais embaixo.

    Ainda que o sujeito tenha recebido a pecha de racista e de antissemita, depois da publicação de suas correspondências pessoais, entre o final da década de 1980 e início da década de 1990, sua relação com a questão racial era no mínimo ambígua. 

    Muito embora tenha se referido aos negros com o uso da n word inúmeras vezes, e tenha escrito coisas objetivamente racistas e indefensáveis, H.L. Mencken sempre se posicionou publicamente contra a Ku Klux Klan e apoiou inúmeras lideranças da NAACP, como Juanita Jackson, Carl Murphy e Walter White.

    Durante a época em que editou a revista American Mercury, H.L. Mencken chegou a publicar W. E. B. DuBois, talvez a maior liderança política e quadro intelectual dos negros nos EUA, por exemplo.    

    Todavia, ainda que o sujeito jamais tenha sido, a rigor, alguém de direita, até porque não era bem assim que os campos políticos estavam delimitados nos EUA do início do século passado, a ala supremacista da direita contemporânea o ama. Vai entender.  

    Jared Taylor, por outro lado, representa o racismo sem ambiguidades e com verniz intelectual da American Renaissance. Taylor já falou coisas como por exemplo:

    Europe is in a life-or-death struggle. Europe can’t remain Europe without Europeans. When we are being replaced by non-Europeans, it threatens our core way of life

    e

    Blacks and whites are different. When blacks are left entirely to their own devices, Western civilization — any kind of civilization — disappears.

    Jared Taylor foi o camarada que, durante a década de 1990, publicou “The Color of Crime”, mais um livro pseudocientífico conservador que tentava provar a maior disposição de negros para cometer crimes. 

    Fosse em uma interpretação à la carte, e certamente distorcida, da obra de H.L. Mencken ou na presença de alguém como Jared Taylor e a American Renaissance, fato é que a existência de um personagem como Jeryd Mencken em Succession funciona como um lembrete de como determinadas ideias e argumentos sobre raça sempre foram o tronco principal e a espinha dorsal da direita americana.

     CONFORME SOLICITADO
    assine a newsletter



     

     

     

    0 Comentários:

    Postar um comentário

    Assinar Postar comentários [Atom]

    << Home


    e o blog0news continua…
    visite a lista de arquivos na coluna da esquerda
    para passear pelos posts passados


    Mas uso mesmo é o

    ESTATÍSTICAS SITEMETER