Perdida no personagem
ARNALDO BRANCO
A Folha de S. Paulo aproveitou a morte da Rita Lee — uma das artistas mais queridas do país — pra tentar bater meta de acesso com uma manchete moralista digna de outra Folha, a Universal: “Rita Lee se deixou guiar por drogas e discos voadores". Bem, é melhor do que se deixar guiar pela linha editorial de um jornal famoso por emprestar suas caminhonetes de distribuição para fazer carreto pra torturador.
Pior é que a gente sabe que a Folha de S. Paulo não precisa desses cliques: ela não existe mais como modelo de negócio viável faz tempo; não tem assinantes e possui uma receita publicitária ridícula, principalmente comparando ao tempo que a mídia impressa tinha importância. Como todos os outros jornais da grande imprensa, ela é só o press release do grupo empresarial que detém a marca e só serve pra reverberar a opinião do tal do mercado. O dinheiro que entra por intermédio de gente disposta a ler esse pasquim mal paga o salário dos estagiários que servem de bucha toda vez em que a Folha dá vexame, ou seja, quase todo dia.
Então esse puritanismo veio de graça, como um CD Summer Eletrohits encartado na edição de segunda-feira. No fim das contas, caiu a máscara de jornal moderninho que a Folha cultivou nos últimos anos, quando contratou alguns repórteres e colunistas de esquerda — da mesma maneira que o Bolsonaro ainda mantém o deputado Helio Lopes por perto só pra dizer que tem um amigo negro.