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  • O BRASIL EH O QUE ME ENVENENA MAS EH O QUE ME CURA (LUIZ ANTONIO SIMAS)

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    Fragmentos de textos e imagens catadas nesta tela, capturadas desta web, varridas de jornais, revistas, livros, sons, filtradas pelos olhos e ouvidos e escorrendo pelos dedos para serem derramadas sobre as teclas... e viverem eterna e instanta neamente num logradouro digital. Desagua douro de pensa mentos.


    domingo, maio 28, 2023

    A historia dos vencidos

     

     

    "Recentemente, fui visitar meu amigo na Avenida Paulista e ele não estava lá. Ninguém, ao redor de seu endereço, sabia seu paradeiro. Tinha desaparecido da minha paisagem tão familiar.

    Acontece que seu endereço não era o
    de um prédio ou de uma loja. Era uma
    barraca na calçada, dessas que uma ONG
    teve a excelente ideia de distribuir para
    moradores de rua. Meu amigo, cujo nome
    nunca me ocorreu perguntar, não mora-
    va só. Como também acontece com mo-
    radores de rua, vivia com seus cachorros.
    Cinco. Só me lembro do nome de uma de-
    las: Vaquinha. Hoje, percebo, consterna-
    da, que também nunca perguntei o nome
    do próprio dono dos cãezinhos! Quando
    eu passava por ali, pedia dinheiro ape-
    nas para comprar comida para os bichos.
    Mas, além de ajudá-lo com a ração barata
    dos seus bichinhos, eu também compra-
    va, no bar atrás de sua barraca, um pas-
    tel de carne e um de frango. A exclama-
    ção de prazer com que ele recebia o lan-
    che – ôôô dona! – evidenciava que, ape-
    sar de pedir ajuda apenas para alimentar
    seus cachorros, ele também tinha fome.
    Na triste ocasião em que não o encon-
    trei, perguntei do seu paradeiro ao dono
    do bar. Me disse que a polícia tirou a bar-
    raca e levou os cachorros para um abri-
    go da prefeitura, porque o rapaz os tinha
    deixado três dias trancados na barraca,
    sozinhos. Por alguns dias, sumiu.

     
    Não acredito que fosse descaso. Para
    mim, era óbvio o apego aos cachorros.
    Pode ter adoecido e ido parar em um hos-
    pital público – onde, talvez, tenha ficado
    alguns dias num corredor à espera de as-
    sistência, não por desleixo dos médicos,
    mas por falta de leitos disponíveis. Po-
    de ter sido preso, por puro preconceito
    da polícia. Imaginei a desolação de vol-
    tar para “casa” e não achar nem a barra-
    ca nem sua família canina."

     leia a cronica de MARIA RITA KEHL 

     

     

     

     

     

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