Mundo Fantasmo: 4931) A Invenção de Morel
"Morel (não farei
aqui um resumo do enredo do romance) inventou uma espécie de cinema em 3D ou
4D, que registra e conserva, de forma perfeita, a presença e as ações de
pessoas num ambiente. Uma espécie de cinema total, onde as imagens são
tridimensionais, e têm uma materialidade concreta que falta, por exemplo, aos
hologramas.
E durante uma semana ele traz seus amigos para a ilha
onde tem uma mansão (com jardim, piscina, etc.) e todos se divertem, bebem,
riem, cantam, dançam, praticam esportes, namoram, desfrutam daquele lazer um
pouco tenso e um pouco ruidoso dos ricos que, não precisando ganhar a vida,
precisam, o tempo inteiro, inventar pretextos para preencher seus dias imensos,
longuíssimos, dias e noites que não acabam mais.
O que Morel descobre não é a imortalidade, que seria o
prolongamento indefinido da vida daquelas pessoas. As pessoas morrerão, sim.
(Como dizia Millôr Fernandes, “injustiça social mesmo era se uns morressem, e outros não”.)
O que a invenção de Morel lhes proporciona é a imortalização parcial: elas continuarão repetindo para sempre aqueles dias, aquela vida de eterno prazer num eterno presente. Existirão como imagens, símbolos, arquétipos. Daqui a mil anos, se outra civilização descobrir aquela ilha, os amigos de Morel estarão ali, reproduzindo suas vidinhas. Serão talvez os únicos registros remanescentes de quem eram os seres humanos do século 20, que aparência tinham, como se vestiam, o que comiam e bebiam, sobre que assuntos conversavam. "