Ensina-me a odiar
"Penso que há um caldo que talvez
tenha polarizado as coisas se aproveitan-
do da ideia de segurança. Porque, para en-
frentar a Covid-19, a gente precisou mobi-
lizar um imenso discurso em torno de se-
gurança sanitária: “use máscara, use ál-
cool, não faça isso, não faça aquilo, man-
tenha distância”, ou seja, a gente concor-
dou, e foi muito bom que fizéssemos, e
foi parte da luta contra a pandemia, mas
veio com um brinde, a partir disso, pois
também começamos a olhar para o ou-
tro como um possível transmissor de
doenças, começamos a olhar a rua como
um lugar perigoso, a tratar aqueles com
quem não concordamos como poten-
ciais pessoas letais. Imagine isso na vida
de crianças e adolescentes? Não ir para a
escola não significa só deixar de apren-
der novos conteúdos, significa não apren-
der que, na hora que você é contrariado,
não deve puxar o martelo e dar na cabeça
do seu colega. O impacto foi imenso,
principalmente para crianças pequenas.
É difícil mensurar esse prejuízo, mas
claramente está aí e faz parte da equação.
Assim como o discurso da segurança
sanitária, que vira o discurso do perigo,
que desagua no discurso de que alguém
está atrapalhando e que inspira a ideia de
resolver a injustiça pelas próprias mãos."
LEIA ENTREVISTA DE CHRISTIAN DUNKER
PARA MARIANA SERAFINI