A escolinha do professor Ernesto
"Na ocasião, Ernesto Araújo pôs os alunos para
estudar as Teses sobre Feuerbach. O texto,
escrito por Marx antes de completar
30 anos e só publicado depois de sua mor-
te, é um acerto de contas com o materia-
lismo – na visão de Marx, limitado – do
filósofo alemão Ludwig Feuerbach. São
onze teses que, para muitos estudiosos do
marxismo, formam o primeiro esboço do
que viria a ser conhecido como materialis-
mo dialético. Araújo tem uma interpreta-
ção um tanto distinta: “Marx vai dizer,
basicamente, que Feuerbach não foi longe
o suficiente na destruição do cristianismo.”
Antes de iniciar a leitura, o diplomata ob-
servou, en passant: “Não sei se é coinci-
dência ou não, mas o número onze é
importante em alguns círculos ocultistas.”
Marx argumenta, na terceira tese,
que o erro de Feuerbach é enxergar o ser
humano apenas como produto das cir-
cunstâncias – quando, na verdade, ele é
produto e causa. O educador também
precisa ser educado, exemplifica Marx.
Ao deparar com esse trecho, Araújo teve
uma epifania: o filósofo alemão defendia
a doutrinação de professores. “Marxismo
cultural praticamente puro”, comentou,
com um sorriso nervoso. Leu trechos do
original em alemão e encerrou a aula
fazendo um pedido óbvio aos alunos: que
votassem em Bolsonaro. “É o único cami-
nho para que não caiamos no programa
das teses sobre Feuerbach.” Lula venceu
a eleição, e ainda não se tem notícia de tal
programa. Araújo continua vigilante."
LEIA REPORTAGEM DE LUIGI MAZZA