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    domingo, março 19, 2023

    Uberização da teledramaturgia brasileira é não só contestável como profundamente danosa

     

    Antonio Prata


    Nesta semana, a saída do diretor Ricardo Waddington, da Globo, e do autor Silvio de Abreu, da HBO, fez com que algumas matérias abordassem o futuro da teledramaturgia no Brasil. (Disclaimer: trabalho há 12 anos na Globo, já trabalhei pro streaming e, provavelmente, ainda trabalharei –caso esta coluna não me feche as portas por lá. E por cá. Emoji de Smile em pânico).

    A visão geral da maioria dos artigos era a de que o sistema de trabalho da Globo é insustentável e que agora todo mundo vai ter que se adequar ao modelo de trabalho do streaming. No antigo modelo da Globo, havia centenas de roteiristas, atores e diretores contratados e o canal escalava este ou aquele de acordo com o produto. O modelo era caro. Em certo sentido, também era danoso para os profissionais na geladeira e, consequentemente, para a qualidade do audiovisual brasileiro, que não podia contar com esses talentos. 

    Por outro lado, foi este o esquema que produziu "Roque Santeiro" e "TV Pirata", Chico Anysio e "A grande família". Neste modelo, as condições de trabalho sempre foram –e ainda são, sabe-se lá até quando– bem dignas. Não só do ponto de vista da remuneração (CLT e o escambau), mas da valorização dos direitos autorais e do respeito ao texto.

    Como é no streaming? Paga-se muito, muito mal aos autores. É possível trabalhar de graça por meses, recebendo só quando a produtora enviar os roteiros pra plataforma. Os executivos podem mudar seu roteiro como quiserem e, inclusive, te demitir de um projeto que você criou, sem nenhuma explicação, botando outro roteirista no lugar. É preciso ter um advogado para lutar por cada cláusula –e os advogados deles são bem bons. Recentemente, a ABRA (Associação Brasileira de Autores Roteiristas) pediu para que o Ministério Público do Trabalho entrasse na conversa, tamanho o descalabro. O mais feio é: nos EUA, as mesmas plataformas não trabalham assim.

    Os roteiristas americanos têm um sindicato forte e eficiente, a WGA (Writers Guild of America). Existem pisos salariais para cada cargo. Os pagamentos são, na maioria, semanais. Há regras claras sobre crédito, direitos autorais, horas de trabalho, intromissão dos executivos no texto e uma infinidade de outros assuntos.

    O roteirista que está no mercado brasileiro precisa pegar duas, três séries ao mesmo tempo para se sustentar, sem nenhuma garantia de que seu trabalho será respeitado. Não é à toa que, em mais de uma década de streaming, a gente não tenha produzido quase nada que preste.

    Entre 1899 e 1970, a empresa norte-americana United Fruit Company plantou bananas em países da América Latina, para exportação. As condições de trabalho eram abusivas, a empresa derrubava ou colocava caudilhos no poder, subornava parlamentares, executava opositores –coisas que jamais faria nos EUA. Por isso, até hoje, quando querem nomear lambanças políticas ou sociais por estes costados, nos chamam de "república das bananas". Interessante é que a pecha tenha ficado só com os países corrompidos, não com a empresa (e o país) que os corrompeu.

    Que o futuro da teledramaturgia brasileira não possa ser o passado da Globo, ok. Talvez isso seja até bom, a médio e longo prazo. Agora, que o caminho inexorável seja o de uma "república das bananas" e que a Globo deva entrar nesta uberização como se fosse "adequar-se aos novos tempos" é não só contestável como profundamente danoso. Para quem faz e para quem assiste televisão no Brasil.

    FOLHA 







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