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    quarta-feira, fevereiro 22, 2023

    Perrengues e alegrias de um bloco

     


    Leo Aversa

    Fiel ao que escrevi semana passada, fui ao bloco. Sim, leitor, fui encontrar o tal espírito do Carnaval, sentir a purpurina no ar. Um pequeno passo para a humanidade, um grande salto para mim.

    Antes tive que me adaptar às mudanças: bloco agora sai cedo. Muito cedo. Tipo sete da manhã. Dizem que é para ter menos gente, mas também dizem que é para espantar os playboys. Antigamente o playboy era um cara como o Jorginho Guinle: de boas, tranquilo, quase sem noção de tão sofisticado. Agora é só um bando de garotão bombado, mezzo troglodita, mezzo fascista. Tão insuportáveis que até eles mesmos se evitam. Como de manhã cedo estão ocupados no supino, tentando fazer o neurônio pegar no tranco, os blocos se livraram dos malas. O problema é que a boa ideia te obriga a acordar cedo, muito cedo.

    Não só. Tem que se preparar para encarar uma multidão e não ser furtado. Nada de carteira ou celular no bolso, me recomendam as matérias no jornal. O negócio é a doleira dentro do short, encostada nas “partes”. Por contraditório que possa parecer num Carnaval, é o lugar mais seguro para seus valores. Tirei todos os apps de banco, os cartões e deixei só uns trocados no bolso, para o ladrão não ficar triste no meio de tanta alegria.

    O caminho da felicidade é longo e sinuoso, dizem. Deu para comprovar: achar os amigos, por exemplo, também é uma questão. Como o bloco é um “Work in progress”, qualquer referência de lugar é efêmera. Sem o celular para orientar, fica quase impossível. O problema é que o telefone se encontra na segurança das “partes”. Como tirá-lo de lá no meio da multidão e manter a dignidade? Isso o jornal não explica! Só espero que a moça bonita e cheia de purpurina que estava perto não tenha visto o vexame.


    Me dei conta que o bloco atual é composto por dezenas de foliões cercados por centenas de ambulantes. É muito isopor pelo caminho. Sobram marcas de rodinhas nos pés dos foliões. Complicado. Ao mesmo tempo, é uma maneira desses ambulantes conseguirem o seu sustento. Mais uma questão. Segui o cortejo problematizando as contradições do capitalismo contemporâneo. Os outros? Nem aí, apenas se divertiam.

    Tantas questões na cabeça — mais o calor de quase cinquenta graus — me deram sede. Água! A única opção eram os ambulantes, os mesmos da problematização anterior. Sabem aqueles filmes onde aparece gente enchendo garrafas numa bica estropiada e vendendo para os incautos como se fosse mineral das montanhas? Pois é. A minha dúvida era morrer de desidratação com o calor ou de intoxicação com a água fake. Mais uma questão para ocupar a minha cabeça, enquanto os outros cantavam e dançavam. Pedi água com gás, tentando ser malandro. O ambulante me olhou como se eu fosse o Jorginho Guinle. Da fase pobre, é claro.

    O bloco foi chegando ao fim. Não os meus problemas. Como faz para voltar? Onde tem ônibus? Cadê o metrô? Será que o Uber consegue chegar? Mais questões. E se o Uber chegar, por onde vai sair? O motorista vai ficar furioso comigo e me dar uma estrela? A moça da purpurina notou a minha situação e veio me dar um conselho: “Aproveita a vida.”

    Não sei se consegui pegar o espírito do Carnaval, mas em casa, olhando no espelho, percebi a purpurina no meu rosto.

    Ainda há esperança.

    GLOBO

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