Elogiar trabalho de Tite é tapar o sol com a peneira

 

 

de RENATO MAURICIO PRADO

Como se julga o trabalho de um profissional? De qualquer área. Pelo desempenho e resultados. Por que com treinadores de futebol seria diferente? Trago o tema à baila, porque tenho visto análises bem distintas quando se faz o balanço dos seis anos de Tite à frente da seleção.

Há quem defenda que não foi ruim, alegando que o ciclo completo teve bons momentos. Ok. Mas para que servem os ciclos se não como preparação para o grande objetivo, no caso da seleção brasileira, a Copa do Mundo? O que são as eliminatórias, onde o Brasil se saiu muito bem? Apenas um caminho para o Mundial, esse sim a meta. O trabalho que fracassa lá é fracassado como um todo. O resto é blablabá.

Claro, há raras e honrosas exceções. A seleção de 82, por exemplo, que encantou o mundo desde a vitoriosa excursão à Europa, em 81 (quando bateu a Inglaterra, em Wembley, a França, no Parc des Princes, e a Alemanha, em Suttgart) e produziu momentos mágicos na Espanha, até a trágica tarde no Sarriá. A seleção holandesa de 74, é outro caso, pela autêntica revolução tática que causou no futebol. E a Hungria de 54, lembrarão os mais antigos. Mas são poquíssimos casos.

As equipes de Tite, em 2018 e 2022, não encantaram nem deixarão saudades porque sempre passaram a impressão de jogar abaixo da capacidade técnica de seus jogadores. Essa da Copa do Qatar, então, decepcionou na maioria das ocasiões que pisou o gramado.

Pode-se elogiar parte do segundo tempo da estreia contra a Sérvia (após um primeiro tempo ruim) e os 45 minutos inicias diante da "poderosa" Coréia do Sul! Muito pouco, convenhamos.

A enorme dificuldade de fazer gols na Suíça e na Croácia, que foi dominante na primeira etapa, e a incapacidade de segurar o resultado nos minutos finais da prorrogação do jogo das oitavas foram demonstrações claras de um trabalho ruim, que ainda nos brindou com a primeira derrota diante de um rival africano, em Copas.

Tite teve muitos méritos em seus trabalhos no Corinthians, porque lá conseguiu resultados. Por causa deles, acabou na seleção, onde só teve sucesso nas fraquíssimas eliminatórias sul-americanas que, para brasileiros e argentinos, não passam de autênticos Me Engana Que Eu Gosto do futebol continental.

Ah, ganhou uma Copa América! E perdeu outra, para a Argentina, em pleno Maracanã. Seus oitenta e tantos por cento de aproveitamento são anabolizados por jogos contra adversários muito mais fracos. E nas duas vezes em que encarou um selecionado europeu um pouco mais forte, nas quartas de final, caiu fora.

Seja qual for o ponto de vista, não dá pra passar pano. Elogiar seu trabalho é tentar tapar o sol com a peneira.

IMPERDOÁVEL

Deixar seus jogadores caídos no gramado, aos prantos, e se refugiar no vestiário, após a eliminação, foi uma das atitudes mais covardes de um treinador que já vi no futebol. E pior ainda foi a desculpa de que nas vitórias também agiu da mesma forma.

Típico de quem não entende bulhufas de psicologia no esporte. Se entendesse, aliás, teria percebido que naquele momento de enorme desequilíbrio emocional, após deixar a vaga escapar por entre os dedos, na prorrogação, era mandatório iniciar a série das penalidades com seu melhor batedor e não com um jovem de 21 anos.

Mas até isso ele delegou para seu auxiliar Cléber Xavier, que foi quem entrou no gramado e ficou discutindo as cobranças com os jogadores. Como delegava também ao seu filho, Mateus, as instruções aos jogadores que entravam durante a partida.

Mas há quem ache que o trabalho do treinador foi bom...

UOL