Os desafios de Lula
"Neste cenário complexo, Lula fica sem
margem de erro. Sua “lua de mel” com
a população após a posse será curta, na
visão da Eurasia. A reeleição de Dilma
Rousseff é outra lição. A petista bateu o
tucano Aécio Neves por 3 milhões de vo-
tos em 2014 e depois abraçou uma políti-
ca econômica neoliberal, traição ao dis-
curso de campanha. Deu no que deu: per-
da rápida de ibope e impeachment. Ago-
ra, o governo de transição chefiado pelo
vice de Lula, Geraldo Alckmin, começou
os trabalhos na quinta-feira 3 com a mis-
são de escarafunchar as contas federais e
arrumar formas de cumprir logo as pro-
messas de campanha do petista. Idem as
conversas iniciadas no mesmo dia pelo
senador eleito Wellington Dias, do PT, in-
tegrante do comitê eleitoral lulista, com
o relator do próximo orçamento anual,
senador Marcelo Castro, do MDB, am-
bos do Piauí. “Queremos que seja asse-
gurado no orçamento de 2023 o contra-
to que fizemos nas eleições, aquilo que
nós dissemos que iríamos realizar para
o povo brasileiro”, disse a presidente do
PT, Gleisi Hoffmann, na terça-feira 1º.
A lei orçamentária do ano que vem en-
viada ao Congresso em agosto pelo mi-
nistro da Economia, Paulo Guedes, é um
obstáculo às promessas de Lula aos mais
pobres, aqueles responsáveis pela derro-
ta de Bolsonaro. O PIB crescerá 2,5% na
projeção otimista de Guedes. O “merca-
do” estima 0,6%, o Banco Mundial, 0,8%,
e o FMI, 1%. Quanto menor o crescimen-
to, menos dinheiro no cofre federal. E
mesmo que o “Posto Ipiranga” acerte a
previsão, o cobertor é curto para bancar
bandeiras de Lula, entre elas a manuten-
ção do Auxílio Brasil em 600 reais, o au-
mento real do salário mínimo, o refor-
ço do programa Farmácia Popular e do
repasse à merenda escolar. Só as quatro
iniciativas vão requerer cerca de 85 bi-
lhões de reais. Há boas chances de Lula
optar por uma solução como aquela dos
tempos da pandemia. “Vamos precisar de
um orçamento de guerra”, diz o senador
Humberto Costa, do PT de Pernambuco."
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