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    quarta-feira, novembro 23, 2022

    Não dá para ser noiva do bolsonarismo e do PT

     


     de LILIA SCHWARCZ

     Alexandre Frota foi convocado para acompanhar os trabalhos do grupo de transição na área de Cultura. A explicação para essa indicação quase inacreditável tem sido colocada na conta da formação de uma Frente Ampla. Frota teria sido indicado pelo PROS, que apoiou a candidatura Lula. Há quem alegue também que ele teria rompido com o bolsonarismo e se transformado num grande crítico do atual presidente.

    Entendo as alegações, acho ótimo que o ex-deputado tenha mudado de ideia, mas isso não faz zerar o passado. Ex-ator de novelas na TV Globo, Frota se engajou durante as manifestações em defesa do impeachment de Dilma Rousseff.

    Em 2018, ele foi eleito deputado federal pelo PL, à época como um ferrenho defensor de Bolsonaro. No seu currículo Frota acumula tudo de ruim. De caso de estupro admitido na TV ao apoio à Escola sem Partido. Além do mais sempre tentou se projetar fazendo escândalo com artistas importantes da área da cultura. Chamou Caetano de pedófilo — foi processado pelo cantor e perdeu. Xingou Chico Buarque dizendo que ele “chorava por não poder mais roubar livremente”. Foi também processado e obrigado a pagar indenização. Atacou a artista Adriana Varejão, e dentre outros disse que sua obra continha uma exaltação da zoofilia. Ainda aproveitou para destilar seu machismo de plantão. Processado, ele pagou indenização.

    O que todos esses casos têm em comum (e eu poderia incluir muitos outros). Provam (1) que Frota não tem nada a ver com Comissão de Cultura; (2) que se trata de uma pessoa descontrolada e volúvel; (3) que ele não respeita os artistas; (4) que é um machista empedernido.

    Formação de Frente Ampla não pode ser história de conta zero. Fico feliz em saber que Frota hoje é crítico e abnega o bolsonarismo. Mas isso não anula erros feios do passado recente. Sei que foi indicação do partido de Frota. Mas torço para que o PT possa aprimorar seus critérios.

    Diferenças são ótimas na democracia. Mas nesse caso estamos falando de um crítico da cultura — ao menos, nos moldes do PT. Aliança precisa ter trava e limite. Alexandre Frota é o meu limite!

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