Norte selvagem
"No fim de abril, a Polícia Civil do Pará encontrou os corpos de Gutemar Pereira e Jaime Santos, trabalhadores terceirizados que prestavam serviço à Equatorial, empresa de energia do estado, depois de duas semanas que eles tinham desaparecido. A dupla foi assassinada enquanto fiscalizava uma fazenda numa área rural do município de Rio Maria, no Sul do Pará. No mesmo período, três jovens foram encontrados mortos na cidade de Novo Repartimento, no sudeste paraense, mais especificamente no interior da Terra Indígena Awaeté Parakanã. Ainda não se conhecem as causas nem os responsáveis pelos dois crimes, pois as investigações estão em curso.
Os assassinatos têm em comum um aparente motivo torpe. O que chama atenção, no entanto, é a diferença inexplicável quando se observa a repercussão e a reação popular em relação aos dois episódios. Enquanto na morte dos trabalhadores a comoção deu-se dentro do esperado, um lamento por duas vidas terem sido ceifadas de forma abrupta, no assassinado dos jovens a reação é de revolta, vingança, ódio e racismo.
Uma parte da população de Novo Repartimento acusa os indígenas de terem assassinado os jovens e ameaça invadir as aldeias para fazer justiça com as próprias mãos. Quer exterminar os 1,5 mil Parakanã que vivem nos 350 mil hectares da reserva e destruir todo o território. “Tinha que pegar, onde topar um ‘índio’, ia matando um por um, para não deixar nenhum vivo, esses vagabundos, canalhas. Não deixar nenhum vivo, nem para remédio”, incita um dos áudios que circulam pelo WhatsApp, ao qual CartaCapital teve acesso. Em outra mensagem, o mesmo autor, desconhecido, faz ameaça ao cacique Xeteria, que tinha gravado um vídeo pedindo proteção para os indígenas. “Esse cacique vagabundo aí ainda fica pedindo apoio. Tem que primeiro matar ele, matar enforcado, de cabeça pra baixo, e ir puxando, cortar o meio dele com serrote.” Uma imagem retirada desse vídeo foi transformada em cartaz, associando a morte dos jovens ao cacique. Habitantes de Novo Repartimento culpam os Parakanã pelo crime e querem fazer justiça com as próprias mãos "
LEIA REPORTAGEM DE FABIOLA MENDONÇA