O futuro sairá caro no Brasil
Um futuro sem senhas. Essa foi uma das promessas no Google I/O, eventual ocorrido na última quarta-feira (11) em que a big tech anunciou as novidades do ano.
Ao introduzir a nova versão do Google Wallet, Sameer Samat, vice-presidente de Gestão de Produtos, comemorou a possibilidade de a ferramenta no celular substituir a antiga carteira no bolso. "Permite acesso rápido e seguro a tudo o que é essencial no dia a dia", disse. "O aparelho de celular é essencial em toda situação. É nossa melhor companhia digital.
Um mundo em que o smartphone faz tudo em nossa vida já é realidade na China há alguns anos e começa a entrar na nossa rotina. Você se lembra da última vez que segurou um ingresso físico na mão? Tudo isso seria motivo de entusiasmo, mas não no Brasil. Por aqui, a insegurança pública fará com que cada novidade seja território fértil para os bandidos. O país já vive uma epidemia de crimes digitais.
O Pix foi uma revolução digital no país, um dos raros avanços do governo Bolsonaro. A facilidade de transferência de dinheiro beneficiou pequenos empresários, trabalhadores informais, campanhas de doação, entre outros. Tão rápido quanto caiu no gosto dos brasileiros, o Pix virou uma atração para furtos e roubos de celulares. Quadrilhas especializaram-se em limpar contas, driblando senhas, reconhecimento facial e impressão digital.
No mesmo evento, o Google mostrou uns óculos, ainda em desenvolvimento, que serão capazes de exibir traduções de conversas em tempo real.
Se o produto vingar, não será difícil imaginar as manchetes da Folha no futuro. "São Paulo vive onda de furtos e roubos de óculos de turistas estrangeiros" ou "Quadrilhas sequestram turistas estrangeiros na região da Paulista". Assim como começam a surgir seguros para Pix, a solução será o brasileiro resignar-se a contratar seguro para óculos —ou para a próxima inovação.
O futuro está chegando, mas a que preço?
FOLHA