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    terça-feira, maio 10, 2022

    Ninguém consegue ficar puto com a mesma pessoa por tanto tempo

    Ilustração de Catarina Bessell

     

    Gregorio Duvivier

    Que ano esquisito. Além das máquinas de disparo de notícias falsas e do Exército louco pra melar a eleição, Bolsonaro ganhou um novo aliado: nosso cansaço.

    No começo do governo Bolsonaro, ficava preocupado com odiar demais uma pessoa. Como é ruim acordar todos os dias tendo a pessoa mais desprezível do país ocupando seu cargo mais alto. Isso não deve fazer bem, pensava.

    Hoje o que me preocupa é o contrário. Sinto que já não consigo odiar Bolsonaro o suficiente. Pelo menos não o tanto que ele merece. Já não consigo me enojar com o mesmo vigor.

    A mesma fala que já me deu vontade de vomitar hoje soa como o "Parabéns pra Você" da Xuxa, a estátua da liberdade do New York City Center, o obelisco de Ipanema, tudo o que a gente já odiou um dia mas acabou se acostumando.

    É natural: o ódio vai perdendo viço, como acontece com a paixão. A revolta, como todo sentimento, tem data de validade.


    Ninguém consegue ficar puto com a mesma pessoa por tanto tempo. Começamos todos revoltados com a inépcia do sujeito. Passamos a odiar sua incompetência. O ódio se transformou em desprezo profundo pela sua desumanidade. E esse desprezo, tenho a impressão, cada dia mais toma forma de preguiça.

    Perdemos aquele tesão do ódio novo, recém-adquirido. Passamos por tudo: gestão desastrosa da pandemia, rachadinhas familiares, funcionários fantasmas, volta da inflação, promessas de golpe.

    Nada mais faz efeito. Os novos escândalos não viralizam, logo se misturam a um mar de tragédias e trambiques que não deram em nada.

    Já não clico em nada que tenha seu nome. Evito encontrar pessoas que gostem de falar dele. Sinto que já descobrimos tudo o que ele tinha de podre. Não tem nada nele que possa me surpreender. "Viu a última do Bolsonaro?" Não vi, mas consigo imaginar, obrigado.

    A única coisa que tem nos tirado da indiferença é um amor novo, recém-descoberto —por um velho conhecido. A paixão por Lula faz do eleitor um sujeito que escreve seu nome no vapor do box, na sujeira dos para-brisas, na rede wi-fi. Não sei quando foi que aconteceu.

    Se foi na prisão injusta, na saída da cadeia, naquele discurso do Zé Gotinha —em algum momento preciso Lula nasceu de novo, e permitiu que projetássemos nele tudo aquilo que esperávamos de um presidente.

    Haverá quem tente avisar: "Vocês estão se iludindo". Claro que estamos. E quem não estiver se iludindo, nem que seja um pouquinho, não sabe o que está perdendo.

    FOLHA


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