Ninguém consegue ficar puto com a mesma pessoa por tanto tempo
Gregorio Duvivier
Que ano esquisito. Além das máquinas de disparo de notícias falsas e do Exército louco pra melar a eleição, Bolsonaro ganhou um novo aliado: nosso cansaço.
No começo do governo Bolsonaro, ficava preocupado com odiar demais uma
pessoa. Como é ruim acordar todos os dias tendo a pessoa mais
desprezível do país ocupando seu cargo mais alto. Isso não deve fazer
bem, pensava.
Hoje o que me preocupa é o contrário. Sinto que já não consigo odiar
Bolsonaro o suficiente. Pelo menos não o tanto que ele merece. Já não
consigo me enojar com o mesmo vigor.
A mesma fala que já me deu vontade de vomitar hoje soa como o "Parabéns pra Você" da Xuxa,
a estátua da liberdade do New York City Center, o obelisco de Ipanema,
tudo o que a gente já odiou um dia mas acabou se acostumando.
É natural: o ódio vai perdendo viço, como acontece com a paixão. A revolta, como todo sentimento, tem data de validade.