Boric seria eleito no Brasil?
Bernardo Mello Franco
Ex-líder estudantil, Boric foi eleito aos 35 anos, idade mínima para disputar a Presidência no Chile e no Brasil. Aqui o campo progressista vai às urnas com dois veteranos. Ciro Gomes tem 64 anos. Está na quarta tentativa de chegar ao Planalto. Lula tem 76. Será candidato pela sexta vez.
A renovação chilena não se limita à mudança geracional. Boric se elegeu com bandeiras que mobilizam os jovens, como o feminismo, a defesa dos povos indígenas e o aumento da participação popular.
Seu discurso pela igualdade de gênero se refletiu na montagem do governo. Dos 24 ministros recém-empossados, 14 são mulheres. Isso representa 58% do novo gabinete, uma marca inimaginável no Brasil.
Dilma Rousseff tomou posse com nove ministras, que equivaliam a 24% da Esplanada. Depois disso, a participação feminina só encolheu. Michel Temer conseguiu montar um governo sem nenhuma mulher no primeiro escalão. Jair Bolsonaro escalou duas, que somavam míseros 9% da equipe.
O gabinete de Boric tem outras novidades bem-vindas. Sua ministra da Defesa chama-se Maya Fernández Allende. Comandará as Forças Armadas que provocaram a queda e a morte de seu avô no golpe de 1973.
Na cerimônia de posse, o novo presidente quebrou o protocolo para reverenciar a estátua de Salvador Allende em frente ao Palácio de La Moneda. Terminou o discurso repetindo palavras do antecessor.
A festa reuniu quase toda a esquerda latino-americana, mas Boric fez questão de excluir sua banda autoritária. Os líderes de Cuba, Venezuela e Nicarágua ficaram fora da lista de convidados.
Um bom começo não é garantia de um bom governo. O jovem presidente assumiu um país com muitos desafios e terá que se virar sem maioria no Congresso. Apesar da inexperiência, ele parece conhecer os perigos que podem transformar esperança em decepção.
Na segunda-feira, Boric disse torcer pela vitória de Lula no Brasil. Mas emendou que espera “aprender” com os erros do PT, citando os escândalos de corrupção que o partido insiste em negar.
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