Há algo que precisa ser dito sobre o conflito russo-ucraniano

Gregório Duvivier

Antes de mais nada: não faço a menor ideia do que está acontecendo na Ucrânia. Não tenho orgulho da minha ignorância, mas tampouco tenho vergonha dela porque sei que é recíproca. O ucraniano médio entende pouquíssimo do conflito entre o Comando Vermelho e o Terceiro Comando. O contato com a teoria decolonial me deu uma desculpa perfeita pra minha ignorância. OK, nunca li a "Ilíada", mas Homero tampouco conhecia Fundo de Quintal.

Tudo o que sei é que Kiev, a capital ucraniana, deve seu nome a um tipo delicioso de frango recheado com manteiga de ervas. Olha que ideia boa. Não me refiro apenas à ideia de rechear um frango com manteiga de ervas, mas também à ideia de batizar uma cidade em homenagem a um frango empanado. A iniciativa me fez lembrar dos pais do diplomata Oswaldo Aranha, que deram ao filho um nome de filé com alho, tamanha a devoção pela iguaria. Queria muito ter chamado a minha filha de Leitão à Pururuca, me faltou coragem. Sorte mesmo teve a imperatriz Leopoldina, cujos pais deviam ser fãs da escola de samba de Ramos.

Haverá quem argumente que a cidade de Kiev veio antes do frango, mas não vou entrar no mérito de quem chegou primeiro, o povo ou a galinha. Interessa aqui apenas que se trata de um nome muito mais convidativo que São Paulo ou Rio de Janeiro. No Brasil preferimos homenagear entidades menos unânimes que o frango, como santos ou acidentes geográficos. Tivéssemos mais amor pela tradição culinária, eu moraria na cidade de São Sebastião do Feijão Amigo, e você estaria lendo o jornal Folha de Bolovo. Vale ressaltar a belíssima exceção de Bauru, cidade que presta tributo a um sanduíche de rosbife com tomate e queijo

Falta por aqui a criatividade do povo camaronês, que batizou a si mesmo em homenagem ao crustáceo. Imagina se morássemos na República Federativa da Casquinha de Siri. Políticos pensariam duas vezes antes de onerar os cofres públicos. A seleção voltaria a ter amor à camisa. Países se dobrariam ao nosso soft power. Ninguém quer guerra com um crustáceo aperitivo.

Meus caracteres estão terminando e acabei não expondo minha opinião em relação ao conflito: sou contra. Mas isso não é tão importante quanto a coincidência dos dois lados, Biden e Putin, terem nomes de cinco letras que parecem resultados do Wordle numa língua que não falo.

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