Bolsonaro renova credenciais eleitorais com a turma do desmatamento
Bruno Boghossian
Jair Bolsonaro renovou suas credenciais com grileiros, madeireiros e produtores rurais interessados em driblar o combate ao desmatamento. Num evento em Brasília, ele anunciou que o governo reduziu em 80% o registro de infrações nessa área. "Paramos de ter grandes problemas com a questão ambiental, em especial no tocante à multa", celebrou.
O presidente cumpriu uma promessa de campanha. Antes de tomar posse, Bolsonaro aproveitava viagens pelo interior e encontros com grupos do agronegócio para divulgar uma plataforma de redução da fiscalização ambiental. Ele afirmava que acabaria com a "festa" do que chamava de "indústria da multa".
Nos últimos três anos, quem fez a festa foram outros personagens. O garimpo ilegal avançou no país durante o governo Bolsonaro, com o incentivo público do capitão. No ano passado, o desmatamento da Amazônia Legal cresceu 29% e atingiu o maior nível em 14 anos, segundo dados do instituto Imazon divulgados pelo Jornal Nacional.
Não é difícil reconhecer o sucesso do governo na busca por esses resultados. Na gestão Ricardo Salles, o Ministério do Meio Ambiente reduziu verbas do Ibama, esvaziou o poder dos fiscais do órgão e dificultou a aplicação de multas. Seguindo ordens de Bolsonaro, autoridades ambientais reduziram a queima de máquinas usadas em atividades de desmatamento ilegal.
Ao lado da facilitação do acesso a armas de fogo, o afrouxamento do controle ambiental é um dos poucos feitos que Bolsonaro entregou para segmentos importantes de sua base eleitoral. O presidente deve se agarrar a esses pontos da agenda para compensar o fracasso registrado até aqui em sua agenda autoritária e em suas investidas sobre as escolas.
Com essa plataforma de campanha, Bolsonaro não deve enfrentar dificuldades para receber, mais uma vez, o apoio dos setores mais atrasados do agronegócio e de desmatadores em geral. Nenhum outro candidato tem tantos serviços prestados nessa área como o presidente.
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