Os empresários vão cair de novo no papo de Bolsonaro?

Bruno Boghossian
Jair Bolsonaro quer repetir a dose. O presidente foi a um beija-mão com empresários da indústria na última terça-feira (7) e apresentou os integrantes do governo como "empregados" daquela distinta plateia. "Vocês não devem nenhum favor para nós. Nós é que somos devedores de favores a vocês", declarou, sob aplausos.
Foi o mesmo papo que usou para conquistar a simpatia do setor em 2018. Naquele ano, Bolsonaro se ofereceu para reduzir direitos trabalhistas e superar o que chamou de "problemas ambientais", afrouxando a legislação. "Não faremos nada da nossa cabeça. Os senhores, que estão na ponta das empresas, serão os nossos patrões", afirmou.
Bolsonaro não esconde a generosidade com que gosta de tratar determinados grupos de interesse. Em mais uma manifestação de sua filosofia extremista, o presidente faz questão de oferecer um discurso de submissão completa à agenda dos produtores e empregadores, descrevendo outros personagens como fardos ou inimigos a serem batidos.
Diante dos patrões, Bolsonaro criticou o que chamou de "ativismo em cima da legislação trabalhista". Lembrou ainda que o governo cortou a aplicação de multas por crimes ambientais e destacou seu patrocínio à distribuição indiscriminada de cloroquina, com o objetivo de manter a economia funcionando.
O presidente parece interessado em levar à próxima campanha sua agenda de depredação: a redução da proteção aos trabalhadores, a perda de credibilidade internacional provocada pela devastação ambiental e a gestão catastrófica da pandemia, que contribui para uma recuperação econômica desastrada.
O programa de Bolsonaro produziu mais instabilidade econômica do que um ambiente saudável de negócios. Mesmo assim, alguns empresários se mostram dispostos a apoiar esse candidato a presidente capaz de prometer um pacote de bondades que nenhum político minimamente equilibrado poderia apresentar. Muitos devem cair na conversa dele mais uma vez.