Bolsonaro, Biden e a falta que faz um presidente
Bernardo Mello Franco
A Anvisa aprovou na semana passada a vacinação da faixa de 5 a 11 anos de idade. Em vez de comemorar a notícia, o presidente passou a atacar os técnicos da agência. Ameaçou divulgar seus nomes na internet, numa clara tentativa de intimidação.
Não satisfeito, o capitão inventou duas exigências para aplicar a vacina: autorização dos pais e receita médica. A primeira não faz sentido, porque as crianças não iriam sozinhas aos posto de saúde. A segunda pune as famílias mais pobres, que não têm um pediatra ao alcance do celular.
Na prática, Bolsonaro só quer criar tumulto e atrasar a imunização infantil. Para isso, conta com o apoio de Marcelo Queiroga. O ministro marcou uma consulta pública sobre o tema para 5 de janeiro. Criticado pela demora, respondeu com deboche: “A pressa é inimiga da perfeição”.
Queiroga virou um Eduardo Pazuello de jaleco. O general também fazia piada ao ser cobrado pela inércia do Ministério da Saúde. “Para que essa ansiedade, essa angústia?”, ironizou, às vésperas do Natal de 2020.
Entre a autorização da Anvisa e a consulta empurrada para janeiro, o Brasil perderá três semanas. Um tempo precioso para proteger as crianças da variante Ômicron, que já se tornou dominante em outros países e agora se alastra pelo Brasil.
As principais entidades científicas já alertaram que a imunização das crianças precisa começar “imediatamente”. Bolsonaro não esta nem aí. Atacou a vacina e foi para o litoral paulista, onde já se deixou filmar dançando funk e passeando de jet ski.
Enquanto o capitão insiste no negacionismo, líderes responsáveis correm para salvar vidas. Na terça, Joe Biden foi à TV pedir que nenhum pai deixe de vacinar os filhos. Ele afirmou que tomar a vacina é um “dever patriótico” de todo americano.
Em menos de dois meses, os EUA já imunizaram 6 milhões de crianças entre 5 e 11 anos. O Brasil, nenhuma. A diferença mostra a falta que faz um presidente.