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    quarta-feira, outubro 13, 2021

    O teatro do astronauta

     

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    Bernardo Mello Franco

    Em 2006, o governo Lula gastou US$ 10 milhões para que um tenente-coronel da Aeronáutica pegasse carona na nave russa Soyuz. O passeio foi mais lucrativo para o astronauta do que para o país. De volta à Terra, ele abandonou a carreira militar e passou a faturar com a venda de chaveiros,
    canecas e bonequinhos. A fama instantânea abriria novos negócios. Marcos Pontes virou palestrante, “master coach” e garoto-propaganda de um tal “travesseiro da Nasa”. Apesar da sigla, o produto não tinha nada a ver com a agência espacial americana. Em letras miúdas, informava ser um “Nobre e Autêntico Suporte Anatômico”.

    Aposentado aos 43 anos, o astronauta se candidatou a deputado pelo Partido Socialista Brasileiro. Não foi eleito. Depois girou à direita e tentou emplacar como vice de Jair Bolsonaro. Fracassou de novo. Como prêmio de consolação, virou ministro da Ciência e Tecnologia.

    Se o governo fosse uma novela, Pontes estaria no elenco de apoio. Só é lembrado quando o capitão precisa de figurante para suas lives. O ministro lavou as mãos quando Bolsonaro tentou maquiar os números do desmatamento e demitiu o diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Depois omitiu-se diante de sucessivos cortes no orçamento.

    Na semana passada, a pasta perdeu mais R$ 600 milhões. O dinheiro estava reservado para financiar pesquisas e bolsas de estudo. Por decisão de Paulo Guedes, foi remanejado para outros sete ministérios.

    “A ciência nunca foi prioridade para este governo. A questão é saber se eles fazem isso por falta de noção ou se existe uma política deliberada de desmonte”, afirma o professor Renato Janine Ribeiro, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência.

    Na sexta-feira, Pontes se disse “muito chateado” e insinuou que poderia entregar o cargo. Dois dias depois, reclamou de “falta de consideração”. Tudo teatro. Ontem o astronauta reapareceu, sorridente, na visita de Bolsonaro à basílica de Aparecida. Ao que parece, prefere continuar como ministro decorativo a voltar a vender travesseiros.

    O GLOBO

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