O ensaio do golpe: Bolsonaro e o 7 de Setembro
BERNARDO MELLO FRANCO
O Exército cancelou a parada anual, mas o capitão vai usar o 7 de Setembro para botar sua tropa na rua. Jair Bolsonaro aposta tudo nas manifestações convocadas para Brasília e São Paulo. Quer emparedar o Congresso e o Supremo, num ensaio do golpe que planeja desde os tempos da caserna.
Na semana que passou, o presidente subiu o tom dos ataques às instituições. Falou em guerra, fuzil, ruptura e ultimato. “Nós não precisamos sair das quatro linhas da Constituição”, disse, na sexta-feira. “Mas, se alguém quiser jogar fora dessas quatro linhas, nós poderemos fazer também”, ameaçou.
Três dias antes, ele disse que chegou a hora de “nos tornarmos independentes para valer”. “As oportunidades aparecem. Nunca outra oportunidade para o povo brasileiro foi tão importante ou será importante quanto esse nosso próximo 7 de Setembro”, discursou.
A claque reagiu com gritos de “eu autorizo”. Os bolsonaristas repetem o bordão desde abril, quando o capitão disse que esperava “o povo dar uma sinalização” para ele “tomar uma providência”.
Bolsonaro vive seu pior momento desde a posse. O tarifaço da luz tende a ampliar seu derretimento entre os mais pobres e a classe média. A elite econômica começou a abandonar o barco. Para tentar escapar do naufrágio, o presidente apela à radicalização.
A convocação do 7 de Setembro não deixa margens a dúvidas. As manifestações terão caráter autoritário e golpista. Vão pregar a cassação de ministros do Supremo e a impunidade para os extremistas que incitam uma quartelada.
O capitão nunca escondeu que era um candidato a ditador. Não acredita na democracia e não aceita os limites impostos pela Constituição. As marchas de terça-feira serão um ensaio para a baderna em 2022. Que ninguém se engane: antes de perder o jogo, Bolsonaro tentará virar o tabuleiro.
O GLOBO