Senadores aceitam acordão de Aras para proteger políticos e Bolsonaro
Bruno Boghossian
O Augusto Aras de 2019 foi ao Senado como um equilibrista. Candidato à Procuradoria-Geral da República, ele dizia que a Lava Jato tinha seus excessos, mas era um "importante marco no combate à corrupção". O Augusto Aras de 2021 adaptou a plataforma de campanha. Em sua segunda sabatina, criticou a operação e disse que não se prestaria à "criminalização da política".
O procurador descobriu um caminho fácil para continuar no cargo e formou uma coalizão ampla. De um lado, estavam bolsonaristas que rasgaram a fantasia do combate à corrupção, interessados em manter a blindagem que a PGR dá ao presidente. De outro, figuravam oposicionistas e independentes que criticam os métodos da Lava Jato.
Na prática, Aras lançou a ideia de um acordão sob a bandeira do repúdio à "criminalização da política". Na lógica do procurador-geral, o Ministério Público não deve combater as atividades regulares de senadores, deputados, governadores, prefeitos e vereadores –mas ele também fez questão de estender esse manto para a proteção do presidente.
Aras usou o argumento da política para justificar suas posições envolvendo Bolsonaro. Em dado momento, disse que "a retórica política precisa ser distinguida numa zona fosca, no lusco-fusco, daquilo que é real". Depois, questionado sobre suas omissões em relação ao governo, afirmou trabalhar para que a PGR não invadisse o território político.
Aproveitando a boa vontade dos senadores com o discurso anti-Lava Jato, Aras fez uma negociação. Ofereceu a revisão dos atos da operação como se aquele fosse um favor, não o mero cumprimento da lei diante dos abusos da força-tarefa. Em contrapartida, manteve sua imunidade diante das vastas acusações de blindagem do presidente.
O ataque de Bolsonaro ao sistema eleitoral e a campanha contra medidas de proteção na pandemia não estão em nenhuma "zona fosca" da política. Ao aceitarem a confusão proposital de Aras, os senadores dão ao presidente um salvo-conduto.
FOLHA