Mercado de revólveres e afins vive forte expansão com a atuação de Bolsonaro para armar a população
“Por 1,3 mil reais, eu consigo autorização da Polícia Federal em 20 dias para o porte de uma arma exclusivamente para defesa”, explica o prestador do serviço à reportagem de CartaCapital, que entrou em contato pelo número informado no anúncio. “Por 1,5 mil consigo o CAC no Exército, que dura três anos, mas esse demora uns dois meses, mas daí você já sai com o porte.” CAC é a sigla que designa os colecionadores, atiradores e caçadores, que graças a uma brecha na legislação jamais foram impedidos de manejar armas de fogo, mesmo após a aprovação do Estatuto do Desarmamento, em 2003. Com o ex-capitão Jair Bolsonaro no Planalto, esse grupo não parou de crescer. Eram 351 mil em 2018 e passaram de 561 mil no fim de 2020.
A despeito da crise, o mercado de armas não para de crescer no País. Somente no ano passado, os brasileiros gastaram mais de 29 milhões de dólares para importar revólveres e pistolas, revelam dados do Comex Stat, o banco de dados de comércio exterior do Ministério da Economia. O volume de importações cresceu mais de 3.400% nos últimos quatro anos. Antes vistas como um artefato de consumo restrito, as armas de fogo podem ser adquiridas em suaves prestações no cartão de crédito e sempre há alguém disposto a facilitar o acesso ao porte, como o despachante do açougue de Itapoã, que parcela os seus serviços em até cinco vezes sem juros. E por mais 200 reais o cliente ainda tem acesso a aulas de tiro, uma verdadeira pechincha.
A desburocratização para se obter posse, porte e arma de fogo no Brasil, uma das principais bandeiras da campanha de Bolsonaro, é parte de um pacotão de 32 medidas que desfiguraram o Estatuto do Desarmamento, incluindo instruções normativas e decretos baixados pelo presidente nos últimos dois anos, segundo levantamento do Instituto Sou da Paz. As canetadas aumentaram em 65% a circulação de armas no Brasil em tempo recorde. Hoje, são mais 2 milhões de armas registradas para defesa pessoal e outras 360 mil públicas, de uso restrito das forças de segurança, registradas no Sigma e Sinarm, os sistemas de fiscalização do Exército e da Polícia Federal, respectivamente. Os dados são do Fórum Brasileiro de Segurança Pública."
mais na reportagem de Ana Flávia Gussen