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    quarta-feira, agosto 11, 2021

    Bolsonaro inventou o debate do voto impresso e nós mordemos a isca

     

    Gregorio Duvivier

    Tente não pensar num jumento. Pronto, já pensou. Nosso cérebro não consegue pensar em não pensar em algo —sem pensar. A mente humana é uma espécie de criança mimada que não sabe ouvir não.

    Pensando nisso, o linguista George Lakoff escreveu “Não Pense num Elefante”. Estudioso do uso político das metáforas, Lakoff explica como os conservadores dominam essa técnica pra ganhar corações e mentes.

    Quando um militante anti-aborto se define como “pró-vida”, ele obriga o adversário a se posicionar como “antivida”. As palavras definem o campo em que o debate vai acontecer. Ganha o debate quem escolhe os termos que vão ser usados.

    Bolsonaro já disse mais de uma vez que não gosta muito de livro com “muita coisa escrita”. Imagino que não tenha lido Lakoff. Mas alguém deve ter lido pra ele. Incapaz de argumentar, ele sabe que não precisa. Basta levar todo o mundo pra jogar no quintal de casa. Mais precisamente, no cercadinho do Alvorada, onde ele define quem entra e sai. Vence a discussão quem escolhe o campo.

    Faz duas semanas, perdia a discussão de lavada. Só se falava no escândalo das vacinas e da rachadinha familiar. E ele não dizia nada. Porque não tinha o que dizer. Nunca disse: “não tenho nada a ver com o escândalo das vacinas”, ou “não cometi rachadinha”. Não somente porque cometeu. Mas porque sabe que isso equivaleria a dizer que cometeu. Por semanas, trancou seus pensamentos junto com as fezes, até porque eles se confundem. 

    Como é que ele fugiu dessa sinuca? Simples: inventou um novo debate, que até então era um não debate: o voto impresso. E a gente mordeu a isca, porque não dá pra não morder. Ele escolheu defender uma aberração pra qual não existe nenhum argumento aceitável.

    Mas ele sabe que não precisa de argumento. Já ganhou, porque definiu o campo. Do dia pra noite, voltou a ser xingado de fascista, de burro, de antiquado, e não mais de ladrão, de bandido, de criminoso comum. Ganha o político que escolhe do que é que vai ser xingado.

    Precisamos retomar a posse de bola. Todo dia é dia de perguntar o que ele não consegue responder: por que não fez nada quando soube do desvio na compra da vacina? Qual era a função da cunhada fantasma no seu gabinete? Por que o Queiroz depositou R$ 89 mil na conta da Michelle?

    No dia em que ele for obrigado a debater tudo isso, já terá perdido o debate.

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