Blindados e bananas

Bernardo Mello Franco
Jair Bolsonaro promoveu um desfile de blindados para intimidar o
Congresso. O plano não saiu bem como ele esperava. Os parlamentares
rechaçaram a pressão e sepultaram a farsa do voto impresso. A parada
fora de época virou alvo de chacota nas redes.
A encenação foi um fiasco instantâneo. Autoridades de outros Poderes
recusaram o papel de figurantes, e o presidente despontou na rampa com
os comandantes militares e os sabujos de sempre. Na praça, um punhado de
fanáticos urrava por golpe e ditadura.
O cortejo foi idealizado pelo comandante da Marinha, Almir Garnier.
Ele sugeriu transformar um exercício de rotina, realizado anualmente,
num teatro para bajular o capitão. Questionado sobre a provocação à
Câmara, o almirante alegou uma “coincidência imprevisível” de datas.
Para dizer isso, seria melhor fingir que perdeu a voz.
Em vez de exibir força, Bolsonaro escancarou sua fraqueza. É um
presidente impopular, que apela à farda para camuflar o isolamento. Para
as Forças Armadas, foi mais um espetáculo desmoralizante. Pela
submissão aos caprichos do “chefe supremo” e pelo fumacê dos veículos
mal regulados.
Enquanto os tanques deslizavam na Esplanada, a CPI ouvia mais um
militar metido no rolo das vacinas. O tenente-coronel Helcio Bruno se
revelou um típico bolsonarista de internet. Nas redes, divulgava
notícias falsas e atacava as instituições. No Senado, adotou tom humilde
e invocou o nome de Deus.
O coronel é uma caricatura da tropa que bajula o capitão. Foi para a reserva aos 42 anos,
recebe aposentadoria de R$ 23 mil mensais e ainda tenta morder
contratos públicos como “consultor de defesa”. Sua devoção política
confunde-se com o apetite por boquinhas e privilégios.
A “tanqueata” não produziu um golpe, mas avacalhou um pouco mais a
imagem do país. O jornal argentino Clarín destacou os “reiterados
ataques” à democracia, e o britânico The Guardian citou a expressão
“república de bananas”. “Todo homem público, além de cumprir suas
obrigações constitucionais, deveria ter medo do ridículo”, disse o
senador Omar Aziz. Mais um aviso que Bolsonaro não deverá ouvir.
O Globo
A encenação foi um fiasco instantâneo. Autoridades de outros Poderes recusaram o papel de figurantes, e o presidente despontou na rampa com os comandantes militares e os sabujos de sempre. Na praça, um punhado de fanáticos urrava por golpe e ditadura.
O cortejo foi idealizado pelo comandante da Marinha, Almir Garnier. Ele sugeriu transformar um exercício de rotina, realizado anualmente, num teatro para bajular o capitão. Questionado sobre a provocação à Câmara, o almirante alegou uma “coincidência imprevisível” de datas. Para dizer isso, seria melhor fingir que perdeu a voz.
Em vez de exibir força, Bolsonaro escancarou sua fraqueza. É um presidente impopular, que apela à farda para camuflar o isolamento. Para as Forças Armadas, foi mais um espetáculo desmoralizante. Pela submissão aos caprichos do “chefe supremo” e pelo fumacê dos veículos mal regulados.
Enquanto os tanques deslizavam na Esplanada, a CPI ouvia mais um militar metido no rolo das vacinas. O tenente-coronel Helcio Bruno se revelou um típico bolsonarista de internet. Nas redes, divulgava notícias falsas e atacava as instituições. No Senado, adotou tom humilde e invocou o nome de Deus.
O coronel é uma caricatura da tropa que bajula o capitão. Foi para a reserva aos 42 anos, recebe aposentadoria de R$ 23 mil mensais e ainda tenta morder contratos públicos como “consultor de defesa”. Sua devoção política confunde-se com o apetite por boquinhas e privilégios.
A “tanqueata” não produziu um golpe, mas avacalhou um pouco mais a
imagem do país. O jornal argentino Clarín destacou os “reiterados
ataques” à democracia, e o britânico The Guardian citou a expressão
“república de bananas”. “Todo homem público, além de cumprir suas
obrigações constitucionais, deveria ter medo do ridículo”, disse o
senador Omar Aziz. Mais um aviso que Bolsonaro não deverá ouvir.
O Globo