Há tudo de podre no reino de Bolsonaro
Ricardo Melo
As cartas estão na mesa, ou nas ruas. A estratégia do usurpador expulso do Exército, rejeitado pela maioria do povo, é tensionar a corda até criar um ambiente de guerra civil aberta ou disfarçada.
As provocações se sucedem. Além das já divulgadas em excesso —desprezar a pandemia, cortar auxílio emergencial, atacar jornalistas, sabotar vacinas, atacar minorias, afundar a economia etc—, Bolsonaro agora afronta o Exército e instituições em geral.
A promoção de Pazuello é um escárnio. O recruta chamado de general tem uma longa lista de serviços prestados: quase 500 mil mortos. Ao arrepio de qualquer liturgia, subiu no palanque do seu senhorio para fazer proselitismo sem máscara nem decência. Em troca, ganhou um cargo de R$ 17 mil mensais.
A reação das Forças Armadas mostra a qualidade daqueles que deveriam ser obedientes à Constituição, não a alucinados. Num caso em que caberia uma punição sumária e rigorosa, o alto comando —expurgado há poucos meses, é bom lembrar— hesita em tomar qualquer decisão à altura do escândalo.
Bolsonaro é obcecado em defender acólitos. Blindou-se com gente como o procurador Aras, que acoberta tudo o que interessa ao chefe. Ricardo Salles é um infrator contumaz, executivo-chefe de desmatadores, madeireiros criminosos e garimpeiros ilegais. Genocida deliberado das populações indígenas.
Depois que a PF fez um rapa na casa do ministro do ½ Ambiente e seus assessores, o milico invasor do Planalto não se deu nem ao cuidado do silêncio constrangedor. Ao contrário. Foi ao cercadinho elogiar publicamente Salles como “vítima”.
O descaso com a pandemia continua. As mortes oscilam de 2.000 para cima diariamente. As UTIs estão lotadas. Não há equipamentos, leitos, insumos, funcionários, vacinas. O que fazer então? Promover a Copa América! Disseminar o vírus ainda mais num país que não sai das alturas do ranking de infectados e óbitos. Um descalabro.
Não há mal que sempre dure (espera-se...). As manifestações do último sábado (29) mostraram que o povo não aguenta mais. O número de presentes, aliás, foi claramente subestimado. As PMs negaram dados sobre a quantidade de manifestantes. Estavam mais preocupadas em agredir quem se expressava pacificamente, como em Pernambuco.
Como, aliás, estão os policiais atualmente. Batem a torto e a direito amparados nas diretivas de seus chefes, cada vez mais alinhados como milicianos fardados da turma de Bolsonaro, não garantidores da “ordem pública”.
Já se disse aqui que Bolsonaro não tem conserto. Isso há 30 anos. Só está de pé porque tem como sustentáculos o grande capital, o Congresso servil, a mídia oficial, militares acoelhados e um Judiciário “suave”.
A esse respeito, cabe um parêntesis: quem viu a capa dos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo no dia seguinte às manifestações de 29 de maio não sentiu apenas espanto, mas nojo. Os telejornais não ficaram muito longe.
Do SBT nem se fale. O genro de Silvio Santos é o ministro das Comunicações do capitão expulso do Exército. Precisa desenhar?
A Band não passa de vitrine dos negócios imobiliários e agropecuários da família Saad. De lá que vem a fortuna da família. Como disfarce, cita uma ou outra notícia entre reportagens sobre um mundo que não existe no Brasil.
Já a Globo é um caso à parte. Enrolada em vários negócios aqui e lá fora, problemas com a Receita e pânico de perder a concessão, flutua entre “jornalismo” e oficialismo. Quem sabe daqui a 40 anos vá divulgar um editorial se arrependendo de apoiar Bolsonaro.
Dia 19 de junho já está marcado como novo dia de manifestações contra o genocida Bolsonaro e sua clique de malfeitores. Aos poucos o povo vai perdendo o medo de sair às ruas, sempre tomando as precauções possíveis. Mas entre morrer de fome, de falta de oxigênio ou nas filas de UTI; ou suportar Bolsonaro e sua gangue de milicianos com ou sem farda, a escolha começou a ser feita no último sábado.