Covid: As lições da favela que reduziu mortes em 90% enquanto Rio vivia tragédia

""Como eu vou me manter? Como vou me alimentar?" Essas eram as perguntas que martelavam na cabeça de David Nascimento, de 24 anos, quando começou a ter sintomas de covid-19, no início de janeiro. Morador da favela da Maré, no Rio de Janeiro, ele trabalhava numa pequena loja de conserto de celulares e precisava do dinheiro.
"Eu pensei: não tem como eu ficar duas semanas (de quarentena) em casa. Vou ter que sair", conta à BBC News Brasil. Foi então que a mãe de David pediu que ele fizesse o teste de covid por meio de um programa de combate ao coronavírus na favela da Maré criado, sem ajuda do governo, por moradores, pesquisadores da Fiocruz e ONGs.
"Ela já tinha ouvido falar no Conexão Saúde por vizinhos e a internet. E pediu para eu agendar o teste no aplicativo Dados do Bem, que é parte do projeto. Eu agendei, fiz o teste e, a partir daí, começaram a cuidar de mim", conta.
David recebeu um oxímetro e um kit com produtos de higiene, passou a ter acompanhamento médico por telefone, teve acesso a sessões online com uma psicóloga e, o mais importante: teve o que comer pelos 14 dias que passou isolado em casa.
Mas David morava com a mãe e um irmão, numa casa pequena na favela. A preocupação passou a ser o que fazer para não passar o vírus ao restante da família.
Para tentar evitar o contágio doméstico, assistentes sociais voluntários do Conexão Saúde fizeram uma avaliação das condições de moradia e criaram uma estratégia de isolamento para a família de David.
"Recomendaram que a minha mãe fosse para a casa da minha avó e meu irmão ficou na namorada. Eu passei a fazer o isolamento com um amigo que também testou positivo. Ele morava com outras pessoas e veio para a minha casa nesse período", conta David."
Leia reportagem de natalia passarinho