PASQUIM 51 ANOS

Esta é a capa do Pasquim número 177, de novembro de 1972, que traz a entrevista do jornal com AGNALDO TIMÓTEO.
O desenho, de Juarez Odilon, retrata uma cena narrada na entrevista, entre vários casos protagonizados por Agnaldo no seu tempo de marginália.
Leia o trecho:
AGNALDO - O Cléber, marido da Ângela Maria, conhecia muita gente importante que é sem vergonha, que é venal, que é ladrão, que somente os homens da imprensa conseguem ficar conhecendo, entende? E com esses conhecimentos o Cléber conseguiu sobreviver no Rio de Janeiro. Aí tomava a grana de todo mundo, e eu é que ia buscar o dinheiro. Até que um dia um cara aí que já morreu... famoso pra caram¬ba...
Millôr — Quem é esse cara?
AGNALDO - Augusto Frederico Schimidt, era o dono dos Supermercados Disco. Então, eu conto a história: um dia, o Cleber me dá o envelope com as coisas dentro e subo pra casa desse homem pra pegar o dinheiro. Cheguei, entreguei, e como não estava sabendo de nada, o homem me meteu o revólver na cara, me xingou: "Seu filho da puta, não te mato pra não arrasar a sua vida".
Millôr - Ele pessoalmente?
AGNALDO - Ele, Augusto Frederico Schimidt, e ele ainda sofria do coração! E a governanta: "Seu Augusto, seu Augusto, não faça isso". E eu completamente inocente, bicho. E ele me botou pra fora.
Millôr - Você não tinha a menor idéia de que era um dos maiores poetas deste país.
AGNALDO — Eu só sabia que ia buscar uma grana. Agora, eu não estou sabendo o que estava dentro do envelope... Ele me xingou pra caramba! "Seu chantagista". E aí o elevador parou, cheio de gente, porque o elevador parava na porta, coisa de bacana, não tinha esse negócio de parar no corredor não. Eu disfarçava e ele, com o revólver na mão: "Eu não sei por que é que eu não te mato". (PAUSA) Cansei de fazer isso no Rio de Janeiro. No Plaza, cansei de tomar dinheiro com nome de outro: eu mesmo ligava e tomava uma grana.
obs.: Augusto Frederico Schmidt foi também presidente do Botafogo e um dos mais célebres poetas brasileiros.
(e um dos autores da série Gisele, a espiá nua que abalou Paris)