Bares lotados no Carnaval da Covid mostram omissão do prefeito Eduardo Paes
RUTH DE AQUINO
Só quem acredita em duende imaginaria que, no fim de semana do carnaval do Rio, os cariocas obedeceriam à convocação do prefeito Eduardo Paes para não se aglomerar em bares, boates e casas de festas. Paes chegou a chamar de “otários” quem não usa máscara nem respeita distanciamento. Vivemos um momento de recorde de mortes na pandemia, reflexo de Natal e réveillon de aglomerações. Quem está fazendo quem de otário?
Vejo secretários e prefeito dizendo que fizeram sua parte. Não diga. Alertaram. Fiscalizaram. Multaram. Isso não basta, precisa desenhar? Neste carnaval de 2021, já estava claro que seria em vão apelar à consciência individual, ao respeito ao próximo e só culpar a falta de educação da população e especialmente dos jovens. “Boate pode abrir mas sem baile na pista. Bar pode abrir respeitando protocolo”. Sério mesmo? É essa a orientação oficial? Sábado e domingo de carnaval? Vamos contar outra história da carochinha, Paes.
É evidente que veríamos no Rio todas essas cenas dantescas numa cidade que precisará até interromper a imunização esta semana por falta de vacinas. É óbvio que, quando os fiscais ou guardas municipais dão as costas, os suicidas/homicidas voltam à carga. Os lemingues, como classificou Verissimo. É claro que os fiscais e policiais seriam ofendidos, agredidos e hostilizados, levaram até garrafa de vidro. São em número menor e sua tarefa é ingrata. Conter bêbados e bêbadas. Interditar estabelecimentos lotados de inconscientes. Deter alguns como “exemplo” – de que adianta mesmo?
Veremos o resultado dessa omissão da prefeitura do Rio daqui a algumas semanas. É só olhar o fim de semana em Belo Horizonte, com os bares todos fechados no Carnaval, para perceber que os bares e as casas de festas não poderiam ter ficado abertos no Rio. Não adianta se voltar contra o povaréu que lotou os bares e boates. Ou esperar o impossível. Homens públicos precisam tomar medidas impopulares em defesa da saúde pública. Para salvar vidas. Muitas vidas.
Paes dirá que não adianta e que, se bares e casas de festas estivessem interditados no Carnaval, os cariocas se aglomerariam nas praias (isso aconteceu) ou nas suas próprias casas em festas clandestinas. Aí, claro, a prefeitura não poderia ser responsabilizada por isso. Mas ver a Dias Ferreira, a Lapa e tantos outros points já manjados abertos e cheios como se não houvesse pandemia é problema sim de Eduardo Paes. Para não desagradar aos comerciantes, fecha os olhos, lava as mãos e joga um jogo de empurra e faz-de-conta. Não vai dar para se mostrar indignado, né, prefeito? A cepa carioca parece ser contagiosa e ter atingido o discernimento de quem deveria nos proteger ao menos do que lhe compete.
A frase “mineiro só é solidário no câncer” foi atribuída a Otto Lara Resende, mas ele nunca assumiu a autoria. Não sei se os mineiros, nesse carnaval da Covid, vieram para o Rio, cidade sem lei. Em Belô, ruas estavam desertas, bares estavam lacrados e interditados. O carioca não é solidário nem na Covid. E isso não é frase de escritor ou de intelectual ou de cronista. É constatação mesmo. Se não for carioca, é turista bem informado: ele sabe bem que, no Rio, tá tudo liberado. A prefeitura continuará apenas a dar desculpas esfarrapadas, a se dizer consternada com a falta de consciência cívica e a deter alguns foliões por desacato. Todos sem noção.