Os novos cavalos de Tróia > O que acontece com a democracia quando os presidentes são Trump e Bolsonaro
"“Governantes incidentais” é o termo que Sérgio Abranches apresentou ao leitor em seu novo livro, O tempo dos governantes incidentais. Foi mais um de seus grandes achados. A expressão serve para descrever um tipo novo de liderança política que emergiu abruptamente na contemporaneidade. Eles ascenderam ao poder em um tempo peculiar, a “era do imprevisto”, como Abranches a nomeia, esse momento de transição conturbada ao século 21, cujas marcas são a velocidade espantosa da mudança e a imprevisibilidade do futuro. Legitimamente eleitos a bordo de coalizões amplas, mas difusas, eles chegaram ao governo com prestígio, força e voz: Orbán, na Hungria; Recep Erdoğan, na Turquia; Vladimir Putin, na Rússia; Hugo Chávez e Nicolás Maduro, na Venezuela; Donald Trump, nos Estados Unidos; Rodrigo Duterte, nas Filipinas; Volodymyr Zelenski, na Ucrânia; Jair Bolsonaro, no Brasil. Uma vez no comando, eles se aproveitam para degradar a ordem política, minar a democracia e erodir as instituições democráticas de dentro para fora, uma a uma, até o colapso final.
A maioria é formada por arrivistas; governantes incidentais são o que o próprio nome indica. Jamais chegariam ao poder sem que se formasse um conjunto imprevisto e irreprodutível de fatores: rupturas eleitorais, desorientação dos partidos e das forças políticas à esquerda e à direita, governabilidade difícil e assentada em coalizões parlamentares instáveis, desencanto social, complacência da população. O problema é complicado. A liberdade, as instituições democráticas, o catálogo de direitos — o parâmetro para avaliar a qualidade da democracia em um país e em cada conjuntura histórica — não se defendem por si sós. Diante de uma governança desse tipo, tudo está ameaçado e precisa ser protegido pelo engajamento da sociedade, desde o início. "
leia análise de Heloisa Starling
sobre livro de Sergio Abranches