Quem mandou matar Emilly e Rebeca?
"Chega um tempo em que a dor não basta. Chega um tempo em que nossos
ombros negros suportam o mundo e, como escreveu Drummond, “ele não pesa
mais que a mão de uma criança”. Se pudéssemos parar o tempo, as primas
Emilly Victoria Silva dos Santos, 4, e Rebeca Beatriz Rodrigues dos
Santos, 7, ainda estariam ali brincando na porta de sua casa em Duque de
Caxias (RJ), e não atravessadas pelo genocídio em curso. Uso o termo em
sua acepção jurídica: homicídio com intenção de destruir, no todo ou
parte, pobres e pretos.
Chega um tempo em que devemos recusar escrever elegias, porque num mundo onde a morte de crianças pretas é uma ordem que as dilacera, resta lutar por justiça. Justiça, escrevera Cornell West, é como o amor se apresenta em público. Balas não são perdidas, porque sempre acham os mesmos corpos negros para os quais foram disparadas. Esvaziar a necrópole da intencionalidade genocida que a caracteriza corrobora para sua banalização: quem mandou matar Emilly e Rebeca?"
leia a coluna de THIAGO AMPARO