Era ídolo, queria ser gente
"Maradona será para sempre uma das marcas da América Latina assim como Simon Bolívar, Che Guevara, Fidel Castro, Mercedes Sosa. Mas o projeto de colonização foi tão efetivo em nos desvincular da latinidade que insistimos em buscar muito mais as diferenças com os países vizinhos do que as semelhanças. A rivalidade Argentina x Brasil no futebol é parte disso, principalmente em função de Maradona ter aparecido e se destacado numa época em que a Seleção Brasileira amargava derrotas em Copas do Mundo, foram 24 anos de jejum de 1970 até 94.
Foi por isso que minha mãe odiou o Maradona por muitos anos, o achava boçal, arrogante, detestava aquele ar de superioridade em campo. Ela se sentia ultrajada quando o via vestindo a camisa da Seleção Brasileira. Eu também me incomodava. Só depois fui entender os motivos do temperamento dele. Era enfrentamento, inclusive político, por meio do futebol, contra nações que nos vilipendiaram, roubaram nossas riquezas para aumentar seus lucros e luxos. Naquele momento, anos 80, quando Diego estava no auge, algumas dessas nações continuavam sugando o pouco que tínhamos em nome do pagamento de uma dívida externa.
Tão individualistas que somos, tão despolitizados no esporte em outras áreas, não conseguíamos observar o potencial revolucionário de Maradona, sua consciência latino-americana, sua busca por um mundo mais justo, na forma como se apresentava, como impunha seu talento nos gramados. Maradona corria com a cabeça erguida, dando rápidos olhares na bola. Era o seu destino, chutar e correr, olhar para frente, arriscar, nos ensinava a ser assim na vida, a virar a lógica de cima para baixo."
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