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  • O BRASIL EH O QUE ME ENVENENA MAS EH O QUE ME CURA (LUIZ ANTONIO SIMAS)

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    Fragmentos de textos e imagens catadas nesta tela, capturadas desta web, varridas de jornais, revistas, livros, sons, filtradas pelos olhos e ouvidos e escorrendo pelos dedos para serem derramadas sobre as teclas... e viverem eterna e instanta neamente num logradouro digital. Desagua douro de pensa mentos.


    sábado, outubro 17, 2020

    A república dos bárbaros

     

    LUIZ GONZAGA BELUZZO 



    Diante das misérias da vida e de uma
    vida de misérias, as vítimas dos deuses
    mundanos buscam refúgio no Incom-
    preensível. Nos tempos de cólera, elas
    fogem das dúvidas e angústias que as
    atormentam. Adaptadas, conformadas,
    até mesmo confortadas e felizes, prefe-
    rem aceitar que sua existência é apenas
    uma permissão dos deuses e de seus pro-
    curadores na Terra.

    Nos espaços fabricados pelas Novas
    Crenças não é possível manter conver-
    sações, porque neles a norma não é a ar-
    gumentação, mas o exercício da animo-
    sidade sob todos os seus disfarces, a prá-
    tica desbragada da agressivi-
    dade a propósito de tudo e de
    todos, presentes ou ausentes,
    amigos ou inimigos.

    As redes sociais, prometidas
    como o espaço do movimento
    livre das ideias e das opiniões,
    se transformaram num cala-
    bouço policialesco em que a
    crítica é substituída pela vigi-
    lância. A vigilância exige con-
    vicções esféricas, maciças, im-
    penetráveis, perfeitas. A vigi-
    lância deve adquirir aquela so-
    lidez própria da turba enfure-
    cida, disposta ao linchamento.
    Não se trata de compreender o
    outro, mas de vigiá-lo. “Estra-
    nho ideal policialesco, o de ser a
    má consciência de alguém”, diz
    o filósofo Gilles Deleuze, tam-
    bém suspeito de patrocinar o
    marxismo cultural. •

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