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  • O BRASIL EH O QUE ME ENVENENA MAS EH O QUE ME CURA (LUIZ ANTONIO SIMAS)

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    Fragmentos de textos e imagens catadas nesta tela, capturadas desta web, varridas de jornais, revistas, livros, sons, filtradas pelos olhos e ouvidos e escorrendo pelos dedos para serem derramadas sobre as teclas... e viverem eterna e instanta neamente num logradouro digital. Desagua douro de pensa mentos.


    terça-feira, setembro 08, 2020

    Do primeiro 7 de setembro ninguém esquece


     

    de Luis Pimentel

    Eu já sabia que nesta data, em 1822, fora proclamada a Independência do Brasil.

    Mas não sabia o que era independência. Muito menos o que era proclamação. E de Brasil sabia muito pouco.

    Hoje sei alguma coisa. E não me ufano!

    Para mim, o que importava naquele 7 de setembro de 1962 (140 anos depois da façanha) é que eu iria desfilar de calça cáqui (curta) e camisa branca, ambas muito bem engomadas, pelas ruas da pequena cidade interiorana onde vivia. Com nove anos de idade e meus sapatos de couro (os primeiros que botei nos pés) pretinhos e novinhos, seria visto e aplaudido com orgulho por minha mãe e irmãos, com admiração pela garota do colégio que eu paquerava sem ela saber, e até com inveja pelos amigos do bairro e da rua.
    Durante a preleção, no pátio do Ginásio Municipal Joselito Amorim (com muitas testemunhas), o professor de História lembrou a importância da data, encheu de glórias e loas o príncipe regente Pedro I e nos fez cantar o belíssimo Hino da Independência. Tocaram a corneta e lá fomos nós, orgulhosos patriotas, na caminhada cívica em homenagem à Nação e honra ao nosso colégio, pelas ruelas de calçamento irregular, sob um sol de rachar coco.

    No meio do desfile, fui traído pelos sapatos novinhos, que engraxei com tanto esmero. As bolhas que já viravam feridas no calcanhar me fizeram sentar no meio-fio, entre triste e envergonhado, enquanto o meu pelotão seguia a retumbante marcha. Como desgraça pouca é bobagem, ainda fui flagrado na condição humilhante de desertor pela menina a quem pretendia impressionar.

    De pé, diante de mim, olhando com cruel indiferença, ela perguntou:

    – Cansou, foi?

    Talvez tenha aprendido ali consistente lição sobre as garotas e os sapatos.

    O mil oitocentos e vinte e dois no Brasil começa, na verdade, dois anos antes, em Portugal. No ano de 1820 uma revolução liberal eclodia na terrinha e família real, que aqui nadava de braçadas, se viu obrigada a atravessar novamente o oceano, fazendo o caminho de volta a Lisboa.

    Antes de picar a mula, o rei D. João VI tratou de nomear o filho mais velho, Pedro de Alcântara, no posto de príncipe-regente do Brasil, com a chave da nação para mandar e desmandar. Bom de prosa e bom reprodutor Pedrinho (Pedrão para alguns) recebeu o título no ano seguinte (1821) e, um ano depois, já estava dando o grito histórico às margens do Ipiranga (alguns historiadores dizem que era um rio, outros que era um riacho), que ficava onde hoje é a cidade de São Paulo – não se sabe se foi aterrado ou se morreu de susto patriótico.

    Um mês depois, o príncipe-regente foi proclamado Imperador Pedro I e o país batizado de Império do Brasil.

    Valeu, Pedrão! Você não é responsável pelo que aconteceu depois e acontece até hoje. Mandou bem.

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