A reforma administrativa é mais uma tentativa inconsequente de acelerar a destruição do setor público
"O recurso encontrado pelo governo pa-
ra justificar a presumida necessidade de
arrocho incessante distribuído em inú-
meras PECs é manipular números para
alegar explosão de despesas com o fun-
cionalismo e inchaço do Estado “gasta-
dor”. São manobras primárias, mostra
a Associação Nacional dos Servidores
da Carreira de Especialista em Meio
Ambiente. “Para justificar a reforma,
o governo usou a estratégia cherry pi-
cking, coleta seletiva de dados que con-
firmem uma tese, mas sem considerar o
todo composto de informações que pos-
sam contradizê-las. Como o governo fez
isso? ‘Esquecendo’ de descontar a infla-
ção.” Os dados mostrados pelo governo,
descreve a Ascema, são de gastos com
salários que saltariam de 44,8 bilhões
de reais em 2008 para 109,8 bilhões em
2029, mais que dobrando, portanto, nes-
sa conta da entidade, mas, considerada a
inflação, caem para 58,8 bilhões. “O go-
verno não quer que os cidadãos saibam
que os gastos com servidores aumenta-
ram 31% nos últimos 12 anos, em vez de
145%, uma curva praticamente estável no
aumento das despesas com pessoal ativo
do Executivo Federal.”
Outras alegações econômicas do go-
verno igualmente não se sustentam,
mostra a comparação internacional. A
arrecadação tributária, que alegam ser
elevadíssima, corresponde a 35,6% do
PIB, enquanto na média dos países da
OCDE é de 42,4%, segundo dados de 2015
da própria organização. Ao contrário do
que alegam, o Estado brasileiro não é in-
chado. O total de funcionários públicos
em relação ao conjunto da população
ocupada é de 12%, enquanto nos países
da OCDE é quase o dobro disso, 21,3%,
de acordo com a mesma fonte. Os salários
mais polpudos em relação àqueles da ini-
ciativa privada valem só para um punha-
do de privilegiados nos três poderes, jus-
tamente a parcela poupada pela reforma
de Bolsonaro e Guedes. A grande massa
de funcionários, 60% a 70%, ganha mui-
to mal, tão mal quanto a maior parte dos
trabalhadores do setor privado. •