O que mostram os eletrocardiogramas de Bolsonaro
Os dois eletrocardiogramas que Jair Bolsonaro faz por dia evidenciam duas coisas. A primeira é que a Covid-19 do presidente não é a do brasileiro. A segunda é que ele defende o uso hidroxicloroquina contra o coronavírus, mas, na prática, não confia nela e teme seus efeitos colaterais.
Bolsonaro pode se dar ao luxo de defender a hidroxicloroquina porque dispõe de médicos e hospitais de alta qualidade, 24 horas por dia a sua disposição, para impedir que a Covid-19 se agrave ou detectar a tempo sinais de que a droga provocou algum de seus conhecidos efeitos colaterais no coração.
Mas o brasileiro com Covid-19 que busca atendimento no SUS com o quadro leve que Bolsonaro conta ter não terá acesso a dois eletrocardiogramas por dia. Na verdade, dificilmente sequer será testado para o coronavírus, porque os testes continuam escassos e demorados.
A demora no atendimento é um dos maiores agravantes da Covid-19. Muita gente morre porque não é atendida a tempo e quando consegue médico e vaga, já é tarde.
Sabidamente, a droga pode causar danos no coração de alguns pacientes. Por isso, o protocolo do Ministério da Saúde recomenda a “realização de eletrocardiograma no primeiro, terceiro e quinto dias do tratamento com cloroquina ou hidroxicloroquina com associação eventual com azitromicina”. Bolsonaro e seus médicos foram bem além.
O zelo dos dois eletrocardiogramas revela que, na hora de cuidar da própria saúde, o presidente usa os privilégios do cargo, inacessíveis