Subiu no telhado a nomeação de Carlos Alberto Decotelli para ministro da Educação. Chamado até de “doutor”, o ex-futuro contratado do governo tinha o currículo inflado por títulos inexistentes, como doutorado e pós-doutorado, além de plágio em dissertações de mestrado.

O fato de alguém que cola em trabalho de faculdade ser cogitado para o cargo mais alto da Educação é, no mínimo, irônico. Também reforça a tese de que mentir sobre a formação não é impedimento para conseguir vaga no governo. Ricardo Salles e Damares Alves estão aí para nos lembrar disso.
Aliás, todos nós deveríamos seguir o exemplo dos ministros e dar uma inflada no currículo. Com a experiência que adquirimos nos últimos 18 meses, bagagem é o que não falta para deixar nosso LinkedIn digno de doutor.

Podemos incluir formação em psicologia, com o trabalho de conclusão “Controlando as Emoções, Mesmo Passando Tanta Raiva”. Destaque para o capítulo “De que Adianta Fazer quarentena, se Meu Vizinho Faz Festa Junina?”

Um MBA deixa o currículo chique? Podemos incluir um em administração e gestão da indignação. Destaque para os artigos “Eu Não me Canso de me Chocar”, “O que Foi Essa Reunião Ministerial?” e “Meu Deus, Eles Roubaram um Cachorro?”.

Pós-graduação em engenharia acústica, com especialização em bateção de panela. Destaque para a tese “Entendendo as Diferenças entre Inox e Teflon, com Batidas de Pau e Escumadeira”.

Mestrado em dialética e retórica na era digital, com o aplaudido artigo “Como Discutir no WhatsApp da Família e Manter a Calma Batendo Boca com Seu Tio Reaça”.

Doutorado em linguística com latim chulo avançado, com fluência em expressões grotescas como “Mas que M$rd@ de Governo” e “C@ral&o, Tamo F*did$ Mesmo”.

Pós-doutorado em neurociência, com o festejado estudo “O Presidente É um Ser Pensante ou Apenas um Corpo Controlado por Carluxo?
”.
Por último, PhD em física das perfurações subterrâneas, com a pesquisa candidata ao Nobel “Afinal, Chegamos ao Fundo do Poço?”. A resposta é não.

ilustração Galvão Bertazzi