Os limites da reação de Bolsonaro
a cobrança por uma ação concreta do presidente aumenta. Querem um golpe
militar. Que Bolsonaro não entrega. Há inúmeras explicações — mas,
mesmo que Bolsonaro conseguisse o apoio do Exército Brasileiro para dar
um golpe, suas chances de sucesso seriam mínimas.
ciência política. Inúmeros golpes que deram certo e que deram errado
foram estudados ao longo dos anos e existe um motivo para que sejam
muito raros hoje em dia. É que a internet não deixa.
Um golpe de sucesso é, de certa forma, um truque. Golpes que dão certo
convencem todo mundo, muito rápido, que o novo grupo está no poder. Se
ocorre hesitação e, após um ou dois dias, a hesitação persiste, o golpe
acaba. Em 1964, João Goulart escolheu não resistir. Em 1955, o marechal
Henrique Lott optou por resistir. Quando há resistência, o ruído na
comunicação gera dúvida. Mais recentemente, em 2016, os militares
tentaram derrubar o presidente turco Recep Erdogan. Durante a madrugada,
transmitindo numa live que a TV local pôs no ar, Erdogan resistiu, se
apresentou como presidente. Causou ruído.
Este seria o desafio de um golpe militar no Brasil. Haveria uma cacofonia de
vozes — ministros do Supremo, parlamentares, governadores, cada qual em
sua live atacando os golpistas. Na confusão, o golpe não teria força
para se sustentar.
E há o segundo fator necessário para o sucesso
de um golpe: o reconhecimento do novo governo pelos principais
parceiros comerciais e países vizinhos. Nenhum governo sul-americano
reconheceria um governo golpista por natural receio de contágio. Os
principais parceiros comerciais são China — que o atual governo só ataca
—, União Europeia — com quem o atual governo está em conflito — e os
EUA. Donald Trump tem uma reeleição difícil pela frente, e apoiar um golpe militar na América Latina não faria sentido político.
O GLOBO