Minneapolis é aqui
Bernardo Mello Franco
A morte de George Floyd incendiou as ruas dos Estados Unidos em plena
pandemia. A imagem de um homem negro asfixiado por um policial branco
motivou uma onda de protestos contra o racismo. O levante começou em
Minneapolis e se espalhou pelas principais cidades americanas.
No Rio, um ato lembrou o estudante João Pedro Mattos Pinto, de 14 anos. O
adolescente foi morto há duas semanas durante uma operação policial no
Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo. Estava na casa dos tios quando
levou um tiro de fuzil nas costas.
A cada 100 pessoas mortas pela polícia no Brasil, 75 são negras, informa
o Atlas da Violência. “A brutalidade e o autoritarismo caminham junto
com o racismo”, diz Jurema Werneck, diretora executiva da Anistia
Internacional Brasil. Ela acusa as instituições de leniência com a
discriminação racial. “A polícia atira, mata e não há nenhuma reparação
às famílias”, critica.
A diretora executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Samira
Bueno, ressalta que a polícia mata mais negros nos EUA e no Brasil. “A
diferença é a escala. Aqui a polícia mata muito mais”, observa.
Ela lembra que a chance de um jovem negro ser assassinado é 2,7 vezes
maior do que a de um jovem branco. “Esses números são a face mais
evidente da desigualdade racial no país”, afirma.
A manifestação de domingo pedia paz, mas terminou em violência. A PM
atirou bombas de gás para dispersar os ativistas. A imagem de um
policial apontando o fuzil para um rapaz descalço e desarmado ajuda a
ilustrar os motivos do protesto.
“Foi uma cena inadmissível. A polícia que mata negros na favela também
ameaça nos matar quando protestamos contra isso”, diz o ativista Rene
Silva, morador do Alemão e fundador do jornal Voz das Comunidades.
A diretora da Anistia Internacional ressalta que o racismo sempre esteve
entre nós, mas parece ganhar espaço na cena política. No sábado,
bolsonaristas marcharam com tochas e máscaras em Brasília. A performance
lembrou a Ku Klux Klan, grupo supremacista branco que apoiou a eleição
de Donald Trump.