Isolados, ilustradores desenham além de suas janelas;
Um não vê a hora de voltar ao futebol de fim de semana, especialmente
ao terceiro tempo de cerveja com amigos. Outra está se aperfeiçoando no
ioiô e irritando os vizinhos com a caneta laser. O terceiro reclama
que, com a família em casa, o reino encantado do cartunista egoísta
erudito foi invadido pela anarquia e leveza de um jardim de infância
improvisado.
Dois deles estão cuidando das mães idosas. A preocupação aumenta quando pensam que mundo vão encontrar quando essa pandemia passar.
Enquanto isso, a pedido da Folha, desenham o que veem de onde estão.
- Daniel Kondo, 49, em Punta del Este (Uruguai)
“Temos enfrentado a quarentena com muita paciência. A divisão das tarefas domésticas e as alternativas para evitar o tédio estão em alta. O trabalho está bastante inspirador, porque é um momento de profundas
reflexões e de produções de conteúdo mais maduras e contundentes. Tenho o privilégio de olhar o mar e o horizonte infinito, o que não significa que ele não seja povoado por personagens da literatura e seres fantásticos.”
André Dahmer, 45, em Nova Friburgo (RJ)
“Fui pego de surpresa. Vim buscar minha filha para voltar ao Rio, mas meus pais, que já estavam na quarentena, julgaram que seria mais seguro ficarmos na serra, onde estou há 16 dias. O comércio fechou e eu só tenho 300 folhas de papel para desenhar. Quando acabar, terei que ir para outra cidade comprar material. Estou passando uma quarentena, dentro do possível, tranquila, com as crianças correndo pelo jardim do sítio.”
João Montanaro, 23, no Bom Retiro, São Paulo (SP)
“Da janela da casa da minha namorada, vejo o Bom Retiro. Famoso pelo seu comércio popular, o bairro agora tem as ruas vazias e apenas mercados e farmácias permanecem abertos. Foi improvisado um espaço para eu desenhar. Dentro do escritório dela, colocamos uma mesa inclinada, uma cadeira da sala e um tablet. Quando não estamos trabalhando, cozinhamos, limpamos a casa e, entre uma ou outra briga, tentamos terminar um quebra-cabeça de duas mil peças.”
- folha de são paulo